quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Admiraban un carrito de limpieza en el Guggenheim creyendo que era una obra de arte / VIDEO:The Square - Official Trailer


 Neste "contexto" do acontecimento descrito no Museo Guggenheim de Bilbao,  OVOODOCORVO recomenda uma visita ao filme "The Square 

Admiraban un carrito de limpieza en el Guggenheim creyendo que era una obra de arte

Una confusión sucedida el pasado domingo en el Museo Guggenheim de Bilbao ha causado que varios visitantes admiraran un carrito de la limpieza durante cuatro horas como si fuera una obra de arte.

febrero 10, 2017

La trabajadora del servicio de limpieza Matilda P.R. se encontraba haciendo  su servicio en la galería principal del Museo cuando recibió una llamada urgente y se vió obligada a abandonar su puesto. Con las prisas Matilda dejó olvidado su carrito de limpieza donde estaba en ese momento. Los visitantes no tardaron a agolparse alrededor del carrito creyendo que era una pieza de arte más del museo. Guardias de seguridad y personal del Museo se acercaron también a admirar la obra. Uno de los visitantes llegó a hacer una oferta en firme de 400.000 euros por adquirir la pieza, la cual catalogó como “La obra más auténtica que he visto en mi vida. Representa la cruda realidad, sin matices…”. Cuando llegó la hora de entrada del siguiente turno de limpieza y quitaron el carrito de la galería los visitantes allí agolpados, que ya sumaban la veintena, se miraron unos a otros con cara extraña y se dispersaron por otras partes del Museo.

Finalmente la oferta por el carrito fue retirada, pero vista la repercusión que tuvo, el Museo ha organizado para el próximo mayo una exposición con el nombre de “Lo Cotidiano” donde se mostrarán piezas de uso común para deleite de los visitantes.

Assembleia Municipal de Lisboa contra azulejos na Praça da Figueira / Azulejos na Praça da Figueira: um grave atentado de leso-património por ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO

Assembleia Municipal de Lisboa contra azulejos na Praça da Figueira

LUSA
27 DE FEVEREIRO DE 2018

A deputada do PPM Aline Hall de Beuvink defendeu que aquele revestimento "vai contra o plano de pormenor da salvaguarda da baixa pombalina"

A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta terça-feira por maioria uma recomendação apresentada pelo Partido Popular Monárquico (PPM) que pede à Câmara da capital o "congelamento imediato" do projeto de revestimento das fachadas da Praça da Figueira a azulejos.

A recomendação teve os votos contra de seis dos oito deputados independentes eleitos pelo PS, a abstenção do PCP e os votos a favor dos restantes deputados.

Na sua intervenção na reunião, a deputada do PPM Aline Hall de Beuvink defendeu que aquele revestimento "vai contra o plano de pormenor da salvaguarda da baixa pombalina".

"É um dos melhores exemplares da arquitetura pombalina e um dos primeiros a ser reconstruído após o sismo de 1755. É um edifício fundamental para a candidatura a Património Cultural", afirmou.

Na recomendação, é pedido à Câmara Municipal de Lisboa que "ordene o congelamento imediato do projeto, que prevê o revestimento azulejar das fachadas da Praça da Figueira, por este entrar em clara contradição com o Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina", aprovado pela AML. O PPM considera que este projeto é "um grave atentado de leso-património de efeitos devastadores em toda esta zona nobre da cidade".

O texto, assinado pela deputada Aline Hall de Beuvink, pede então que o município "transmita à Assembleia Municipal a autoria e o projeto de reabilitação da Praça da Figueira, para que a AML o possa analisar à luz do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina".

No início do mês, o jornal Público avançou que "os donos dos prédios da Praça da Figueira vão ser obrigados a colocar azulejos na fachada se quiserem fazer obras". Atualmente, os azulejos azuis, brancos e cinzentos já cobrem a fachada do quarteirão da Suíça, retomando um antigo projeto do arquiteto Daciano da Costa.

Os deputados da AML aprovaram ainda uma moção também apresentada pelo PPM para que seja reposta a estátua do Rei D. Sebastião na Estação Ferroviária do Rossio, destruída por um turista em 2016. "A estátua destruída em 2016 por um turista não foi ainda reposta. Pela importância histórica, pedimos que seja reposta o mais rápido possível", disse a deputada.

Aline Hall de Beuvink aproveitou a ocasião para chamar a atenção para a greve de fome que o deputado nos Açores, Paulo Estêvão, está a cumprir em protesto contra a falta de cantina na escola da ilha do Corvo.

"Está em greve de fome há oito dias. Agradeço a atenção para esta situação porque estamos preocupados com saúde do nosso deputado Paulo Estêvão e com as condições das crianças", afirmou.

O Governo Regional dos Açores passou a contemplar, nos últimos meses, um pagamento às famílias afetadas pela ausência de cozinha e refeitório escolar na ilha menos habitada dos Açores, mas, para o parlamentar do PPM, tal não mais é que uma "desresponsabilização".

Azulejos na Praça da Figueira: um grave atentado de leso-património

A importância deste bloco deve-se ao facto de ele constituir um arquétipo ainda intacto da primeira fase da Reconstrução Pombalina.

ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
6 de Fevereiro de 2018, 6:37

Repentinamente, fomos confrontados com um acto consumado. A fachada tardoz do importante bloco pombalino, elemento único e da mais alta importância patrimonial, determinante para a formação das duas praças do Rossio e da Figueira, foi coberta por azulejos.

A importância deste bloco deve-se ao facto de ele constituir, juntamente com o outro no Largo de S. Paulo, já referido por mim em outro artigo no PÚBLICO, um arquétipo ainda intacto da primeira fase da Reconstrução Pombalina, segundo os parâmetros estabelecidos por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel.

Através dos tempos, as volumetrias e tipologias dos edifícios das duas praças foram sendo alteradas, no processo da segunda fase da Reconstrução, ao longo do séc. XIX e mesmo do séc. XX (Hotel Metrópole, Rossio, 1917). Daí a importância deste bloco, representante da escala original do projecto da Casa do Risco para a Praça do Rossio.

Este casus da proposta dos azulejos para a Praça da Figueira conheceu várias peripécias, com momentos e episódios mais ou menos obscuros. Assim, o projecto inicial da iniciativa de Daciano Costa data de 2001, no período do mandato de João Soares, que simultaneamente se viu confrontado com todo o projecto para o Elevador do Castelo.

O projecto, que era caracterizado por uma polémica intervenção de radical afirmação em ruptura e contraste com o legado patrimonial, através de uma linguagem “de azulejos azuis e brancos mais escuros nos andares de baixo e mais claros nos pisos de cima, de modo a criar um efeito degradée”, não foi realizado, e os respectivos cem mil azulejos foram guardados num armazém em Alcântara.

Em 2004, o projecto regressa, agora no mandato de Carmona Rodrigues, o que levou a uma nova proposta de azulejos, agora fabricados na Viúva Lamego seguindo novas exigências técnicas que se pretendiam mais adequadas. Custo desta nova operação: entre 350 e 400 mil euros.

Este processo foi “acompanhado” por Inês Cotinelli, assessora de Carmona entre Novembro de 2003 e Julho de 2006, filha de Daciano Costa, e também posteriormente sócia-gerente da empresa Sociedade Daciano da Costa. É de destacar que o atelier Daciano Costa, depois da morte do titular em 2005, passou a ser dirigido pela arquitecta Ana Costa.

A “relação” de Ana Costa com o pombalino foi definida numa intervenção mais do que infeliz na Rua Ivens (31) em 2013, determinada pelo conhecido “fachadismo” preconizado e estimulado por Manuel Salgado, em que a fachada era o resultado de um pastiche totalmente betonizado, criando um bloco monolítico, híbrido, betonizado e plastificado, produto do nivelamento de duas anteriores fachadas presentes em dois edifícios originais... Mansardas pombalinas, trapeirão, gaiolas, tudo foi sacrificado, juntamente com os interiores, com excepção da escadaria e alguns azulejos. Quanto à fachada tardoz, esta pode-se “perspectivar” a partir do Largo da Boa Hora, confirmando a promessa de “Apartamentos de Luxo com garagem e vista deslumbrante”.

Já em 2017, em função do impacto deste novo projecto para os azulejos na Praça da Figueira, perante as exigências do Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina que “prevê a salvaguarda dos revestimentos primitivos das fachadas” que “se encontravam rebocadas e pintadas”, foi pedido um parecer na DGPC ao conselho consultivo, que produziu um parecer não consensual, onde dúvidas são exprimidas sobre o valor desta intervenção para um conjunto de Interesse Público. Para que serve então o plano de pormenor? Qual é o papel da DGPC na salvaguarda patrimonial da Baixa?

Na minha opinião, como reacção a este caso, e tendo em conta a ainda vigente mas cada vez menos provável intenção de candidatura da Baixa a Património Mundial, a DGPC devia ter respondido com uma proposta para a classificação deste único e determinante bloco como Monumento Nacional, garantindo assim a preservação na íntegra das suas características exteriores e interiores. Porque parece impossível, simplesmente, restaurar um edifício desta importância, agora, através desta intervenção “excepcional”, dividido na linguagem das suas fachadas entre Rossio e Figueira e “desconstruído” esquizofrenicamente e neuroticamente de forma bipolarizada, num atentado da sua unidade indivisível?

Um grave atentado de leso-património permitido por todos!


Historiador de Arquitectura

Oito prédios na zona da Avenida da Liberdade perdem “interesse público” e entram no mercado


Oito prédios na zona da Avenida da Liberdade perdem “interesse público” e entram no mercado

Samuel Alemão
Texto
28 Fevereiro, 2018

Eram edifícios classificados como de interesse público, por neles funcionarem equipamentos considerados vitais para a comunidade, mas dada a desactivação consumada ou planeada de tais usos, passarão a fazer parte do mercado imobiliário. A Câmara Municipal de Lisboa (CML) prepara-se para proceder à desclassificação de oito imóveis, na área da Avenida da Liberdade e envolvente, como estando “afectos a fins de utilidade pública” – isto é, descritos como “equipamentos” – e torná-los aptos a serem convertidos em edifícios de habitação ou empreendimentos turísticos.

Entre eles encontram-se as antigas instalações da Autoridade Nacional de Protecção Civil, na Rua Câmara Pestana, e dos CTT, na Rua de São José, da Fundação Oriente, na Rua do Salitre, o edifício da EPAL, na Avenida da Liberdade, o antigo Cinema Olympia, na Rua dos Condes, a ainda três quartéis do bombeiros. Dois deles ainda estão no activo, o dos Voluntários Lisbonenses, na Rua Camilo Castelo Branco, e o dos Voluntários da Ajuda, na Praça da Alegria, agora provisoriamente ao serviço dos Sapadores.

O fim da classificação de cada um dos oito edifícios como “área de equipamento” faz parte da alteração simplificada do Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente (PUALZE), a ser apresentada e discutida na reunião pública do executivo municipal desta quarta-feira (28 de fevereiro), pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado – um processo que terá ainda um período de consulta pública de dez dias.

Os edifícios em causa, de acordo com a proposta de alteração da carta uso dos solos afecta ao referido plano, deverão ser agora reclassificados como “área habitacional”, “área histórica habitacional”, “área terciária” ou “área mista”. Qualquer uma destas categorias prevê, entre outras possibilidades, a construção de habitação ou de empreendimentos turísticos, de acordo com o Plano Director Municipal de Lisboa(PDML).

Nos considerandos à proposta, salienta-se que a dispensa dos imóveis como áreas de equipamento “não onera nem compromete o funcionamento e a qualidade da rede de bens e serviços públicos programada na área deste Plano, destinada à satisfação das necessidades colectivas, atenta nomeadamente a estratégia definida no PDML”.

O processo de reclassificação do uso dos solos do plano em vigor para a Avenida da Liberdade e zona envolvente foi iniciado em dezembro de 2016, com a sua aprovação em reunião de câmara. Depois de, no início do ano passado, a CML ter incluído ainda na lista dos edifícios a desclassificar como “equipamentos” as antigas instalações do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), na Rua de Santa Marta – passando, assim, a lista a perfazer nove imóveis -, a proposta foi a discussão em reunião de câmara a 28 de junho de 2017.

E, do debate ocorrido na mesma, apenas resultou como consensual a alteração de uso de solo de um dos edifícios do elenco inicialmente proposto: o do antigo quartel dos Bombeiros Municipais, situado nos números 1 a 5 da Travessa do Forno, que torneja para o Largo do Regedor, 1-4. Mas Manuel Salgado não desistiu. Um ano depois do lançamento da iniciativa, solicitava aos seus serviços a preparação de uma nova proposta de alteração simplificada do PUALZE, actualizando a informação sobre a desafectação do uso público dos edifícios em causa, “no sentido de prescindir da sua reserva como áreas afectas a equipamentos”.

Desse pedido do vereador do Urbanismo, resultou uma “visita” ao terreno, que levou a Divisão de Planeamento Territorial a produzir um relatório, no qual se fundamenta a proposta agora a discutir em reunião de executivo. Para cada um deles, o documento faz uma recomendação de reclassificação do uso do solo. A saber: Rua do Salitre, 62-64 e 66-68, antiga sede da Fundação Oriente, deverá ser “área mista”; Rua Câmara Pestana, 41-45, antigo edifício da ANPC, será classificado como “área histórica habitacional”; a mesma categoria a que estará destinado o antigo quartel do Bombeiros Voluntários da Ajuda, na Praça da Alegria 27-30; já o antigo Cinema Olympia, na Rua dos Condes, desafectado pela Secretaria de Estado da Cultura, em março de 2015, da sua finalidade pública, será apto para actividades terciárias.

O mesmo fim, actividade terciárias, terá o imóvel da Rua de Santa Marta, 55, onde esteve o ICNF; para o actual quartel dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses, na Rua Camilo Castelo Branco, prevê-se a conversão em “área habitacional”; ao antigo edifício dos CTT, na Rua de São José, 10-20, caberá o uso de “área habitacional histórica”; e, por último, a ainda sede da EPAL, na Avenida da Liberdade, está destinada a uso terciário.

Fazendo uso deste parecer dos seus serviços, bem como da fundamentação das deliberações prévias que deram início a este processo de desclassificação do “interesse público” dos imóveis em causa, Manuel Salgado volta a defender a sua proposta. E fá-lo, argumentando que “a CML pode e deve promover a alteração do respectivo instrumento de gestão territorial com vista à redefinição do uso do solo, quando, por iniciativa dos respectivos titulares (proprietários, locatários), os imóveis anteriormente afectos a fins de utilidade pública sejam materialmente desactivados dessa finalidade e se verifique a sua fraca ou inexistente aptidão para acolher novos equipamentos”.


Um desfecho, escreve o autarca no documento a ser levado a discussão nesta quarta-feira (28 de fevereiro), que poderá acontecer “quer em razão da sua localização no tecido urbano, quer pelas suas características intrínsecas”.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Bloco pede linha SOS Despejo contra “bullying imobiliário” aos inquilinos de Lisboa


Bloco pede linha SOS Despejo contra “bullying imobiliário” aos inquilinos de Lisboa

Samuel Alemão
Texto
27 Fevereiro, 2018

O fenómeno surgiu nos últimos anos, com a criação do novo quadro legal do arrendamento, e tem-se acentuado com a enorme valorização das casas em Lisboa. Existe cada vez mais gente a sentir-se empurrada para fora dos imóveis onde há muito vivia ou tinha o seu negócio, para dar lugar a novos inquilinos dispostos a pagar valores de arrendamento mais elevados. A pressão para sair pode incluir formas tão diversas e eficazes quanto o serão os cortes de luz nas partes comuns do prédio; ameaças de corte de energia ou gás; o assédio permanente até que o inquilino aceda partir; abertura das janelas das fracções, deteriorando as condições habitabilidade; início de obras nas fracções próximas do inquilino, sem aviso prévio; ou a intimação para a assinatura de documentos de forma imediata, sem conhecimento prévio dos inquilinos. A isto se chama “bullying imobiliário”. O Bloco de Esquerda (BE) pede agora à Câmara Municipal de Lisboa que tome medidas para travá-lo.

Aquilo para muitos será apenas o lado menos simpático, mas, ainda assim, uma inevitabilidade, da lei do mercado é para os bloquistas “uma forma de pressão inadmissível e ilegal”. Isto porque atinge, sobretudo, os mais vulneráveis: inquilinos idosos, com dificuldades económicas, baixa escolaridade, e que vivem, muitas vezes, de forma isolada. Por isso, o BE pede à câmara, através de uma recomendação, a discutir e votar na sessão desta terça-feira (26 de fevereiro) da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), medidas concretas contra o fenómeno, também conhecido como “mobbing imobiliário” – estando a expressão “mobbing”, por regra, associada à pressão moral exercida em contexto de ambiente de trabalho. De entre as acções propostas agora pelo Bloco destaca-se a criação de uma linha telefónica gratuita, denominada SOS DESPEJO, “para reportar situações de despejo na cidade de Lisboa”. Será a partir dela, entende o partido, que poderá ser desenvolvido um apoio mais eficaz às pessoas afectadas.

A segunda das medidas propostas passaria pelo surgimento de um serviço de apoio jurídico, associado a essa linha telefónica, “para esclarecer os direitos dos moradores, e encaminhamento da situação reportada para os serviços da Câmara, no sentido de se poder actuar no desencadeamento de instrumentos de fiscalização do imóvel”, defende a recomendação. O documento propõe ainda a “sensibilização da polícia municipal para este fenómeno” e a adopção de “mecanismos de resposta célere a denúncias de moradores de forma a obviar comportamentos de bullying imobiliário”. Lembrando que o problema do bullying ou mobbing imobiliário é reconhecido pela ONU como uma causa mundial de despejo forçado e pela Amnistia Internacional como uma violação dos direitos humanos, os bloquistas consideram que as suas vítimas carecem de apoio e acompanhamento técnico, mas também político, porque “facilmente são ludibriados pelos advogados das imobiliárias”.

A SOS DESPEJO, a linha telefónica que pretendem ver criada pelo município, seria para todos, mas com um especial pendor para “as vítimas do assédio permanente dos agentes das imobiliárias, bem como dos senhorios que querem expulsar os seus inquilinos”, explica a O Corvo o deputado municipal do BE Ricardo Moreira. “São eles o elemento mais frágil, quem realmente precisa de apoio”, diz o eleito bloquista, revelando que ao grupo municipal do partido na AML têm chegado diversas queixas e relatos de casos concretos de pressões “inadmissíveis” – as quais acontecem um pouco por toda a cidade, mas com especial ênfase no centro histórico. Para os que vêem como naturais, de acordo com as leis do mercado, as pressões para a saída dos inquilinos que não conseguem acompanhar a inflacção das rendas, Moreira tem uma reposta: “Nesse conceito ideal de que o mercado funciona na perfeição, todos os agentes têm a mesma informação. Ora, isso não acontece aqui, porque há uns que têm todo o poder e a informação e os outros são vulneráveis”.


Por isso mesmo, para evitar abusos, argumenta o membro da assembleia municipal, é que o Bloco defende a criação de um sistema de informação universal através do SOS DESPEJOS. “Uma medida como esta, de criar um instrumento com toda a informação disponível para as pessoas, sobre os seus direitos nesta matéria, deve ser uma competência do Município de Lisboa”, considera Ricardo Moreira. O deputado municipal salienta a importância de tal instrumento ser apoiado por um “serviço jurídico competente, informando os munícipes sobre os seus direitos” e agindo em sua defesa, quando se verifiquem situações de abuso ou de pressão considerada ilegítima. E em última instância, nota, caso o bullying imobiliário prevaleça, será sempre possível recorrer à Polícia Municipal para repor a normalidade.

Projecto de Souto de Moura para a Praça das Flores pode avançar




Projecto de Souto de Moura para a Praça das Flores pode avançar
Tribunal rejeitou pedido de três associações para reverter licenciamento, mas estas estão a preparar recurso para obrigar a uma alteração do projecto.

JOÃO PEDRO PINCHA 27 de Fevereiro de 2018, 8:00

Não teve sucesso a acção popular que três associações de defesa do património interpuseram para tentar travar um projecto do arquitecto Souto de Moura para a Praça das Flores, em Lisboa. Os promotores da obra podem assim acabar de demolir o edifício que agora existe no local e avançar com a construção do novo, que está em banho-maria há mais de dois anos.

A acção popular tinha sido apresentada ao Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa, em Março do ano passado, por três das cinco associações que organizaram o Fórum do Património 2017. Essas entidades contestam o desenho proposto por Eduardo Souto de Moura para o novo edifício, que consideram desfasado da restante praça. O projecto prevê que o prédio tenha cinco pisos e uma fachada em ferro, vidro e alumínio, assumindo "uma linguagem arquitectónica actual", de acordo com a memória descritiva.

O objectivo da acção judicial era obrigar a Câmara Municipal de Lisboa a reverter o licenciamento da obra e promover um projecto "compatível com a ambiência e estética da Praça das Flores", disse Vítor Cóias, presidente da comissão organizadora do Fórum do Património, no ano passado.

O próprio confirmou ao PÚBLICO que a acção tinha sido rejeitada. “Mas está a ser preparado o recurso para a segunda instância”, acrescentou Vítor Cóias. “Agora pretende-se impedir a construção do novo edifício, a menos que o projecto seja alterado, para o compatibilizar com a traça arquitectónica que caracteriza a Praça das Flores”, explicou. Isso “já não impedirá o promotor de acabar de demolir o que resta do antigo edifício”, lamentou.

Este tem sido um projecto mobilizador de fortes críticas, desde logo de alguns técnicos camarários que o analisaram antes do licenciamento. "Não se consideram reunidas as condições para a valorização arquitectónica e urbanística da área e do conjunto edificado em que se integra", apont então. Ainda assim, o processo acabou por ter luz verde do director municipal e do vereador do Urbanismo. Também no ano passado, para lá de uma providência cautelar e de uma acção popular, foi lançada uma petição online que reuniu 1755 assinaturas contra a proposta de Souto de Moura.


O projecto também mereceu alguns elogios, como os de Ana Vaz Milheiro, professora de arquitectura, que disse ao PÚBLICO em 2016 que o prédio “é bem desenhado, as proporções são correctas e não vai mudar as características do lugar”. A arquitecta sustentou então que “há uma quebra com o que a praça possa aparentar, mas em relação ao que lá está é um ganho”.

Depois de meses paradas, câmara diz que obras no Hotel Netto já recomeçaram


Depois de meses paradas, câmara diz que obras no Hotel Netto já recomeçaram
Os trabalhos pararam devido a um “desentendimento” entre o promotor e o empreiteiro. Com um novo responsável pela recuperação do hotel, a autarquia garante que as obras já recomeçaram.

CRISTIANA FARIA MOREIRA 27 de Fevereiro de 2018, 8:12

Depois de mais de quatro décadas votado ao abandono, há muito que a recuperação do histórico Hotel Netto é aguardada pelos sintrenses. Há dois anos, com a venda do hotel em hasta pública à empresa Restelo Azul, ficou a promessa de que o edifício do século XIX seria recuperado para albergar um hotel de quatro estrelas com 34 quartos. As obras ainda arrancaram mas, meses depois, pararam, deixando a população a questionar por quanto tempo mais as ruínas do hotel, que foi casa do escritor Ferreira de Castro, serão uma "mancha" na paisagem que envolve o Palácio Nacional, no centro histórico da vila de Sintra. A autarquia diz agora que os trabalhos já recomeçaram.

Apesar da grua e dos andaimes, ao que o PÚBLICO apurou, a recuperação do edifício está suspensa desde Junho. “De facto os trabalhos estiveram parados durante algum tempo devido a um desentendimento entre o promotor da obra e o empreiteiro”, disse ao PÚBLICO fonte do gabinete de comunicação da autarquia liderada por Basílio Horta.

O "desentendimento" terá levado ao afastamento do anterior construtor, estando agora os trabalhos a cargo da construtora San Jose. No local, que o PÚBLICO visitou no final da semana passada, estão já afixadas as placas que indicam o novo dono da obra. No entanto, não foram vistos trabalhadores. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, entrar em contacto com o proprietário do imóvel.

Nos últimos anos, o edíficio com fachada horizontal, de linhas sóbrias, rasgada por longas fileiras de janelas rectangulares e por varandas balaustradas em ferro, tem passado de mão em mão.

No final de 2013, a Parques de Sintra-Monte da Lua, empresa de capitais públicos da qual a autarquia é accionista e é responsável pela gestão dos parques e monumentos de Sintra, quis comprar, por 600 mil euros, o hotel em ruínas à empresa Tivoli Hotels & Resorts, que o detinha. A ideia era a adaptação do antigo hotel a uma “residência jovem/hostel, de modo a viabilizar a sua recuperação e vitalizar o centro histórico de Sintra”. No entanto, a autarquia decidiu exercer o direito de preferência, impedindo a aquisição da Parques de Sintra - Monte da Lua, dirigida, na época, por António Lamas.

Na altura, Basílio Horta, dizia à agência Lusa que a aquisição do Hotel Netto revelava que a câmara ia "assumir as suas responsabilidades na requalificação do centro histórico da vila de Sintra e em todo o concelho”. Porém, a autarquia nunca avançou com as obras e acabou por decidir-se pela venda, perante o elevado custo de manutenção da fachada.

O imóvel acabou por ser vendido, em Março de 2016, em hasta pública, à empresa Restelo Azul – Exploração Turística, detida pela ex-mulher do empresário Carlos Saraiva, um dos sócios maioritários de um grupo imobiliário e turístico, onde estava integrada a cadeia hoteleira CS que já na altura se sabia estar em situação de insolvência e foi, mais tarde, integrada na Nau Hotels & Resorts.

O antigo hotel foi arrematado à única proposta apresentada à hasta pública, pelo valor de um milhão de euros. A intervenção no edifício consistiria na criação de um hotel de quatro estrelas com 34 quartos, incluindo três suítes, num total de 68 camas.

O negócio assentou na modalidade de pagamento diferido. Assim, a Restelo Azul pagou apenas 20% do montante da transacção, ou seja 200 mil euros. Seriam pagos mais 30% quando a unidade abrisse portas e duas prestações de 25% aos seis meses e após um ano da entrada em funcionamento do novo hotel, que beneficiaria de isenção de taxas municipais por envolver a recuperação do edifício.

Numa reunião do executivo em Novembro passado, o vereador da CDU, Pedro Ventura, questionou o presidente da câmara sobre a paragem na empreitada. Na resposta, Basílio Horta disse estar a acompanhar a obra “com muita preocupação”. “A obra não está inteiramente parada, mas está a andar muito, muito devagar. Parece estar parada, mas não está. Eu fui lá e estão a trabalhar por dentro duas pessoas. Por aquele caminho, nunca mais o hotel Netto é arranjado. Vamos realmente ter que intervir porque o contrato diz que se as obras não forem feitas naquele prazo há uma resolução do contrato, eles perdem o dinheiro que já deram e nós ficamos outra vez com o hotel”, explicou.

Questionada pelo PÚBLICO, a autarquia garantiu estarem a ser cumpridos os prazos legais da empreitada. No termos da adjudicação, em Julho de 2016, o promotor dispõe de 30 meses para concluir o hotel, "após emissão do alvará de construção ou licenciamento da operação urbanística".

De acordo com a câmara de Sintra, “encontram-se concluídas todas as demolições, executada a contenção de fachada (uma das fases mais difíceis), contenção periférica com execução de pregagens e parte das escavações”. O valor de obra executada até ao momento é de aproximadamente 600 mil euros. Os trabalhos estão agora a cargo da construtora San Jose, que estará “a trabalhar no local para concluir os restantes trabalhos de estrutura, cobertura, alvenarias, cantarias e revestimentos exteriores”.


O projecto prevê a instalação da unidade hoteleira com a preservação da fachada, com 34 quartos. O hotel, que seria de quatro estrelas, será agora uma unidade de cinco estrelas, uma “decisão da responsabilidade da Direcção Geral de Turismo”, sustenta a autarquia. A cumprirem-se os prazos, a recuperação do antigo Hotel Netto terá de estar concluída no final deste ano.

Maioria dos jovens em Portugal não consegue arrendar ou comprar casa


Maioria dos jovens em Portugal não consegue arrendar ou comprar casa
Hoje às 01:09

A maioria dos jovens em Portugal não consegue arrendar ou comprar casa devido aos empregos precários e a um mercado de habitação com preços muito elevados, segundo um relatório da Cáritas Europa, que é divulgado esta terça-feira em Lisboa.

"Os preços da habitação em Portugal, quando comparados com a média dos valores dos rendimentos, são desproporcionados. Os jovens precisam de um futuro", refere o estudo, que descreve os principais desafios relacionados com a pobreza e a exclusão social entre os jovens em Portugal.

O desemprego, os empregos precários, os contratos irregulares e os baixos salários fazem com que seja "muito difícil" um jovem conseguir suportar os custos de habitação, alerta o documento.

"Assim sendo, os jovens não se comprometem com o arrendamento ou compra de habitação", salienta o documento, que destaca um estudo do Núcleo de Observação Social da Cáritas Portuguesa (NOS), segundo o qual "a situação da habitação tornou-se incontrolável", apesar de algumas medidas implementadas,

Segundo o estudo, o preço das casas antigas sofreu um novo aumento (9,2%), mais elevado que o preço das casas novas (3,5%) subindo em média 7,1% em 2016 e 7% apenas no primeiro trimestre de 2017".

A maioria das habitações sociais precisa de obras, estimando-se que os custos superem os 50 milhões de euros, refere o documento, observando ainda que a oferta de casa para os grupos mais vulneráveis "praticamente desapareceu".

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, adiantou que "a autonomia dos jovens é adquirida cada vez mais tarde".

"A autonomia passa muitas vezes por uma vida independente que é ter habitação própria e os jovens com o dinheiro que auferem não têm acesso à habitação, as rendas são muito elevadas", disse Eugénio Fonseca, sublinhando que, nos últimos anos, o valor das rendas em bairros antigos aumentou 20%.

Para ultrapassar este problema, o relatório recomenda aos decisores políticos que facilitem a "habitação a preços acessíveis para os jovens de acordo com os seus rendimentos e proporcionar-lhes a oportunidade de iniciar uma vida independente".

O relatório alerta ainda para o desemprego jovem, afirmando que "é um flagelo que atinge muitas famílias, e acima de tudo, condiciona os sonhos e aspirações da juventude em Portugal" e "compromete o futuro do país".

"As oportunidades de emprego e os níveis salariais diminuíram acentuadamente desde a crise financeira de 2008. Portugal regista ainda um elevado nível de desemprego jovem, muitos deles emigraram a as habilitações de nível superior não estão a ser valorizadas pelo mercado de trabalho", sublinha.

Analisando o relatório, Eugénio Fonseca disse que este aponta para "a necessidade de uma maior articulação e de acompanhamento das políticas sectoriais".

"Há que identificar os atores que têm intervenção direta na superação das causas da pobreza", disse, defendendo que essa responsabilidade não pode apenas ser entregue ao Ministério do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social".

Segundo o presidente da organização, "todas as preocupações colocadas no relatório foram cruzadas com as preocupações europeias".

"Situámo-nos naquilo que nos parece ser a pobreza mais preocupante no domínio dos jovens que é a educação, a habitação e o trabalho", vincou.


Eugénio Fonseca explicou que as propostas apresentadas já têm em conta algumas medidas que os governos têm implementado em Portugal, mas também a experiência dos 20 países da Europa que cooperaram na elaboração do relatório".

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Manutenção das árvores da Avenida da Liberdade: uma história muito mal contada


Manutenção das árvores da Avenida da Liberdade: uma história muito mal contada

Samuel Alemão
Texto
22 Fevereiro, 2018

Depois da divergência sobre as causas do embate entre um autocarro de turismo e uma árvore na Avenida da Liberdade, subsiste o desencontro sobre a responsabilidade na gestão dos seus espaços verdes, incluindo árvores. Fernando Medina diz que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) reassumirá a gestão do arvoredo, porque a Junta de Freguesia de Santo António não o quer fazer. Mas, há um ano, numa reunião de câmara, o vereador da Estrutura Verde, José Sá Fernandes, garantia que a CML havia acabado de assumir de novo a manutenção dos espaços verdes da avenida. E por dois anos. Vasco Morgado, o presidente da junta, diz que a gestão das árvores “é feita pela junta, em consonância com a câmara”, de acordo com o estabelecido “há pouco mais de um ano”. A avaliação do estado das árvores, porém, é incumbência da CML, garante. “Eles puxaram para si essa responsabilidade”. A Plataforma em Defesa das Árvores diz que as da Avenida da Liberdade têm estado ao abandono. Ou seja: uma confusão.

Afinal, quem tem assegurado a monitorização e a manutenção do arvoredo na Avenida da Liberdade? A dúvida persiste, dois dias após um acidente, ocorrido na manhã de terça-feira (20 de fevereiro), na principal artéria da capital, resultante do embate de um autocarro de turismo de dois pisos, da Carristur, numa pernada de uma árvore. Da colisão, cujas circunstâncias estão ainda a ser apuradas por uma perícia técnica – sendo as primeiras conclusões reveladas na próxima semana -, resultou uma dúzia de feridos, oito dos quais hospitalizados e estragos avultados no veículo. Mas, para além das dúvidas sobre as circunstâncias do acidente – com a Carristur a negar que o veículo tenha saído do eixo da via, contradizendo assim a versão dos autarcas -, sobra ainda um conjunto de contradições e a certeza de haver ainda muito por esclarecer sobre a monitorização e manutenção das árvores na avenida. As declarações dos responsáveis políticos só têm ajudado a aumentar a confusão.

A começar pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Fernando Medina (PS) disse aos jornalistas, ao final da tarde de terça-feira, em Vila Nova de Gaia, que “aquilo que é uma competência da Junta de Freguesia vai voltar a passar para a câmara”. E acrescentou: “Os lisboetas têm o direito de se sentir em segurança (…). Vamos tomar esta atitude visto que a Junta de Freguesia [de Santo António] não quer exercer essa competência, e até nega tê-la”. Referindo que “o quadro legal de Lisboa é muito claro”, o autarca anunciou, porém, uma alteração ao mesmo. “A responsabilidade do abate e manutenção do arvoredo naquela zona da cidade é da Junta de Freguesia [de Santo António]. Uma das consequências da descentralização é que quem assume competências tem de as exercer. Se a Junta de Freguesia não quer assumir, a Câmara vai assumir de novo essas competências”.

A proclamação entra, todavia, em contradição com o que o seu vereador da Estrutura Verde anunciou há um ano. No dia 22 de fevereiro de 2017, numa reunião pública do executivo municipal, José Sá Fernandes, garantia que havia sido estabelecido um acordo com a Junta de Freguesia de Santo António para a manutenção dos espaços verdes da Avenida da Liberdade, árvores incluídas, durante dois anos. Interpelado, nessa ocasião, durante o período de questões do público ao executivo, por uma representante do grupo cívico Plataforma em Defesa das Árvores (PDA), sobre quem seria a entidade responsável pela gestão dessa área, CML ou junta, Sá Fernandes foi claro: “O contrato que a Câmara de Lisboa, entretanto, assumiu prevê a manutenção durante dois anos. Portanto, durante os próximos dois anos, o responsável pela manutenção dos espaços verdes da Avenida da Liberdade vai ser a Câmara Municipal de Lisboa”.

O vereador tentava assim tranquilizar a representante da Plataforma, Fátima Castanheira, que, na altura, disse ter tido a informação de que a CML “havia recuperado, muito recentemente, a gestão dos canteiros e das árvores” naquela artéria da cidade. E, de seguida, a mesma activista questionava: “Esse resgatar é para manter ou é provisório? Por que razão a CML não a considera [à Avenida da Liberdade] como um espaço estruturante do Corredor Verde de Monsanto? Algo que nos parece evidente e que, naturalmente, esclareceria a questão da titularidade da avenida, uma vez que esta passaria a ser da esfera da Câmara de Lisboa em definitivo”. O pedido vinha acompanhado por uma “Petição pela reintegração da Avenida da Liberdade no Corredor Verde de Monsanto”, entregue na altura.

Nessa mesma reunião pública, antes de dar conta do contrato para o reassumir temporário de responsabilidades da autarquia nos espaços verdes da avenida, Sá Fernandes anunciava já terem sido feitas intervenções de beneficiação “em todo este corredor” e, naquele momento, a CML havia mesmo assumido “vários melhoramentos na Avenida da Liberdade”. O autarca elencava arranjos nos lagos e nos canteiros das zonas ajardinadas, para além de terem sido “plantadas árvores nas caldeiras em falta”, muitas das quais no lugar das palmeiras – abatidas devido à praga do escaravelho vermelho. “Calculo que um dia destes, mais um mês, temos a Avenida da Liberdade arranjada, bonita, com os lagos a funcionar”, prometeu, antes de anunciar o novo protagonismo da Câmara de Lisboa na avenida durante os próximos dois anos.

Apesar disso, as dúvidas sobre a forma como canteiros, lagos e árvores da avenida eram ou não acompanhados e por que entidade mantiveram-se. Tanto que, passado quase um ano sobre essa reunião, e, por coincidência, na véspera do acidente, a Plataforma em Defesa das Árvores voltava a questionar a CML sobre o assunto. O pedido de esclarecimento, enviado pelos activistas da PDA a José Sá Fernandes, na tarde de segunda-feira (20 de fevereiro), é acompanhado de duas fotografias de canteiros mal tratados – situação que descrevem como “uma vergonha”. O grupo de cidadãos solicita ao vereador “esclarecimentos quanto à efectiva, ou não, transferência temporária de tutela e qual o seu efeito prático até agora”. E acrescenta: “Preocupa-nos particularmente a manutenção do coberto arbóreo desta Avenida, que, conforme nos confirmou, é parte integrante do corredor verde de Monsanto”.

Ouvida por O Corvo, já depois da colisão entre o veículo turístico e a árvore, Rosa Casimiro, responsável pela Plataforma, diz que continua por esclarecer quem, efectivamente, tem vindo a assumir a manutenção dos espaços verdes na Avenida da Liberdade. “Nota-se que aquilo está ao abandono. Há um ano, o vereador disse publicamente que passaria a ser a câmara a assumir as responsabilidades, durante dois anos. Já se percebeu que a junta não tem capacidade para isto. Mas, para além do abate das palmeiras doentes, pouco tem sido feito. A manutenção das árvores tem sido feita de maneira completamente desastrada”, critica.

A activista ambiental diz ainda que “aquelas árvores são muito grandes e precisam de atenção profissional, de alguém que faça o trabalho de subir lá acima, a cada uma delas, e avalie o seu estado”. Algo que, pelo que tem conhecimento, não tem sido feito – ao contrário, diz, do que sucederá na freguesia de Campo de Ourique, por iniciativa da própria junta. Rosa Casimiro teme que, após o acidente, uma das respostas das autoridades seja a de realizar podas indiscriminadas. “Não sabemos se o ramo desta árvore estava ou não em bom estado, mas, muitas vezes, o mais fácil e começar a podar”, considera.

As afirmações agora feitas por Fernando Medina, na sequência do acidente, sugerindo inacção da Junta de Freguesia de Santo António, são também discrepantes com o que diz o seu presidente, Vasco Morgado (PSD). O autarca garante a O Corvo que a gestão dos espaços verdes e do arvoredo da Avenida da Liberdade “tem sido feita pela junta em consonância com a câmara”. O autarca lembra, porém, que a responsabilidade pelo abate de árvores é sempre da CML. E não se fica por aí. “A avaliação do estado das árvores é feita pela Câmara de Lisboa, eles puxaram a si essa responsabilidade. Depois de realizarem a monitorização das árvores, eles passam-nos a informação, para nós actuarmos”, diz o presidente da junta, que confirma a passagem de responsabilidades da junta para a CML, ocorrida “há pouco mais de um ano”.

Em declarações à comunicação social, ao final da tarde de terça-feira, à margem da Assembleia Municipal de Lisboa, Morgado disse que a árvore onde embateu o autocarro “não estava sinalizada, não estavam identificadas anomalias” e “não havia uma queixa concreta na junta”. Apesar de remeter para a CML a responsabilidade pelo abate de árvores, manifestou, no entanto, total disponibilidade para agir, acaso soubesse estar em risco a segurança pública: “Quando houver a identificação visível de um problema eu vou lá, corto a árvore e não peço autorização a ninguém”. Vasco Morgado informou, todavia, que os serviços da junta estarão a avaliar “se houve falha” da autarquia, para “perceber o que será necessário fazer”.

Nesta quarta-feira (21 de fevereiro), em declarações a O Corvo, Morgado repetiu aquilo que dissera na véspera sobre o acidente: “O que está aqui em causa não é o estado da árvore, mas sim o facto de que terá ocorrido um problema, uma falha técnica, na condução do autocarro e o levou a embater na árvore”. “Disseram-me que o motorista se terá desviado de um carro e guinado, embatendo na árvore”, diz. Uma tese também veiculada por Sá Fernandes, nas horas subsequentes à colisão. Segundo a mesma versão, o autocarro realizou um “encosto demasiado à berma”. A Carristur, em comunicado, apresentara outra versão: “Não houve despiste do condutor, a viatura estava alinhada com o eixo da via, mas a Carristur vai instaurar imediatamente um inquérito para apurar as causas deste acidente”.

O presidente da junta de Santo António desvaloriza as declarações de Fernando Medina sobre o novo quadro de responsabilidades da CML na gestão dos espaços verdes da Avenida da Liberdade – “ele bem pode dizer o que quiser”, comenta a O Corvo -, até porque garante que a junta já está a trabalhar com a câmara para melhorar a manutenção dos mesmos. “Ainda na noite de terça-feira, eu o José Sá Fernandes já falámos e ficou combinado que nos vamos sentar à mesa, junta e câmara, para discutir sobre este assunto”.


O Corvo questionou enviou, na tarde de terça-feira (20 de fevereiro), duas questões à Câmara de Lisboa relacionadas com este assunto. “Tem a CML realizado a manutenção adequada daquele arvoredo, bem como dos restantes espaços verdes?” e “Tem a CML monitorizado o eventual impacto causado na segurança rodoviária pela proximidade e pela inclinação das árvores existentes na avenida?”, eram as perguntas, cuja resposta, porém, não chegou até ao momento da publicação deste artigo.

O silêncio do Governo sobre a seca é um perigo


EDITORIAL
O silêncio do Governo sobre a seca é um perigo

A ameaça da seca é real e não se percebe por que razão o Governo não a traz para o primeiro plano das suas prioridades políticas.
O excesso de confiança do Governo é um perigo. Perante a incerteza, está mais do que na hora de fazer soar os alarmes.

Manuel Carvalho
26 de Fevereiro de 2018, 6:30

Adivinhar o clima não é uma especialidade dos políticos. Mas, perante a seca que se agrava, o Governo comporta-se com a tranquilidade do feiticeiro após a dança da chuva. Em Janeiro, o ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, dizia que a precipitação acumulada e a que havia de cair permitiriam ao país "chegar bem até Abril, sem sobressaltos". A sua falta de talento para a meteorologia deu no que deu. O problema agravou-se e quase um décimo do território nacional está em seca extrema numa época em que habitualmente costuma chover com abundância. 

O excesso de confiança do Governo é um perigo. Perante a incerteza, está mais do que na hora de fazer soar os alarmes. Os agricultores, que sentem antes de todos as agruras da falta de água, já vieram a público dar conta do drama com que se confrontam e o seu apelo devia bastar para que o Governo convocasse o país para a possibilidade de algo correr muito mal até ao Verão. Não estamos a falar apenas de incêndios. O risco de faltar água para abastecimento humano é real e a possibilidade de haver culturas condenadas a morrer por falta de água não pode ser descurada. O que está em causa é uma ameaça  gravíssima.

Para já, não faz sentido instaurar um alarmismo desnecessário. A expectativa do ministro do Ambiente, ainda pode ser concretizada. Mas face aos dados disponíveis e à realidade concreta de regiões como Trás-os-Montes ou o Baixo Alentejo, pergunta-se por que não se lançaram já campanhas de poupança de água. Ou porque não se discute legislação que restrinja o uso de água para regar jardins, lavar automóveis ou encher piscinas. E como não há tempo a perder, era bom que os partidos que agora discutem o próximo ciclo de fundos europeus definissem um plano de actuação para enfrentar as alterações climáticas que ameaçam transformar uma parte significativa do território nacional num deserto.

A seca coloca ao país um desafio que não pode mais ser adiado. Como se provou no desastre dos fogos no ano passado, o pior que pode fazer perante os problemas é acreditar que eles se resolvem por si próprios. Quanto mais cedo de atacar o problema, melhores resultados se poderão conseguir. O silêncio conformado do Governo perante o que se está a passar não é apenas um factor de preocupação: é também um indício de irresponsabilidade.


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

“Não sabemos quando a seca vai terminar. Poupem o mais possível a água”


“Não sabemos quando a seca vai terminar. Poupem o mais possível a água”
19 fev, 2018 - 15:50 • Olímpia Mairos

Em entrevista à Renascença, Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, alerta para o desafio da seca que afeta Portugal e apela à poupança e à redução das perdas de água nas redes municipais de distribuição.
Se é verdade que já não é possível travar alguns impactos das alterações climáticas, não é menos verdade, dizem os especialistas, que o pior ainda pode ser evitado. Em entrevista à Renascença, Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), defende uma maior coordenação entre Espanha e Portugal, no que respeita aos recursos hídricos, mudanças na agricultura e combate ao desperdício da água.
Filipe Duarte Santos participou, esta segunda-feira, em Vila Real, no Congresso Nacional sobre Alterações Climáticas, que se prolonga até quarta-feira e é organizado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). A organização envolve uma equipa multidisciplinar da academia transmontana, que integra estudantes e professores de Biologia, Biologia e Geologia, Genética e Biotecnologia, Arquitetura Paisagista e Engenharia do Ambiente, em colaboração com a Ordem dos Biólogos.

Qual é o principal desafio do século XXI?

É o desafio das alterações climáticas, uma questão que é conhecida, e que ontem procurava abordar, em particular através das Nações Unidas e do protocolo de Quioto e, agora, do acordo de Paris. Mas aquilo que acontece é que há alguns sítios do mundo, algumas regiões do mundo, em que as alterações climáticas se começam a sentir de uma forma mais gravosa e temos que encarar esse problema.

Em particular, na Península Ibérica tem havido um decréscimo de precipitação anual, estamos numa situação de seca nalgumas regiões de Portugal e Espanha. Outras regiões do mundo têm sofrido problemas semelhantes e de ventos extremos mais frequentes. E, portanto, tem que haver uma maior consciência desta problemática de todas as pessoas, de todos os cidadãos e também dos governos.

Que projeções se podem fazer em termos de futuro?

Vamos continuar a ter a diminuição da precipitação média anual, isso é, talvez, um dos aspetos mais graves, e ventos extremos mais frequentes, como ondas de calor com precipitação intensa e em intervalos de tempo curto e a subida do nível médio do mar que afeta as nossas costas, que são particularmente vulneráveis, porque temos uma parte considerável da nossa costa que é uma baixa arenosa e, portanto, está em risco de inundação.

Filipe Duarte Santos. Foto: Olímpia Mairos
Filipe Duarte Santos. Foto: Olímpia Mairos
O ano de 2017 foi de seca severa e extrema em Portugal. Este problema pode repetir-se em 2018?

Não sabemos quando é que esta seca vai terminar. Esperemos que ela termine o mais rapidamente possível, pode ser que chova abundantemente nos próximos meses, mas não temos essa capacidade de prever e, portanto, o que podemos esperar é que as pessoas estejam conscientes da situação em que se está, que usem a água com a maior parcimónia possível, ou seja, que poupem o mais possível a água, que haja menos desperdício de água, sobretudo nos sistemas de distribuição da água que as câmaras municipais fazem no país.

Há perdas que não são muito explicáveis. Há municípios que têm imensa atenção a esse problema e tem havido grandes progressos, mas, em outros, ainda são superiores a 50%, uma situação, de certo modo, incompreensível no contexto atual. Sabemos que há sítios no mundo que estão numa situação pior do que a nossa, como seja a cidade do Cabo na África do Sul, que tem os dias contados. Temos que saber que estas coisas podem acontecer.

Em termos de políticas, que há a fazer no imediato?

Maior coordenação entre Espanha e Portugal, no que respeita aos recursos hídricos. Depois, temos que ver em que medida a agricultura que estamos a ter é compatível com a precipitação que temos. Temos que nos adaptar a um clima que é não só mais quente, mas também mais seco.

Não temos, então, boas notícias em termos de alterações climáticas?

Não, eu diria que não são. Poder-se-á dizer: mas então como se resolve o problema? O problema, de facto, resolve-se emitindo menos gases com efeito estufa para a atmosfera. Nós dependermos menos dos combustíveis fósseis. E isso é o que a Europa tem tentado fazer e tem tido bastante sucesso nisso e tem metas ambiciosas de redução dos gases com efeito estufa.

Trata-se de um problema global. Não basta a União Europeia fazer isso, é necessário que o mundo inteiro faça isso. E aí é que está o problema. Temos uma enorme dependência dos combustíveis fósseis. Cerca de 80% das fontes primárias da energia são combustíveis fósseis: carvão, petróleo e gás natural. É uma transição que é difícil. Mas, se não se fizer essa transição, o que temos a esperar é que estes eventos extremos, estas secas extremas nesta região do mundo, na região do mediterrâneo vão continuar e, possivelmente, até agravar-se.

Como avalia a saída dos EUA do acordo de Paris?

Acho deplorável. É uma política que representa apenas considerar a adaptação às alterações climáticas e não a mitigação, ou seja, a redução das emissões, e de um enorme egoísmo em relação a todo o mundo.

Que consequências podem ter as alterações climáticas na ignição e propagação de fogos florestais?


Os incêndios têm outras causas para além das alterações climáticas, mas as alterações climáticas potenciam, sobretudo, porque em 2017 os maiores incêndios foram fora de época, digamos assim, foram fora da época do verão: ocorreu no fim da primavera e no princípio do outono.

As armas e a democracia

Imagem do Dia / OVOODOCORVO
A Imagem do Futuro na América

EDITORIAL
As armas e a democracia

O negócio das armas é uma consequência da degradação democrática dos Estados Unidos. E não serão os jovens activistas a salvá-lo.

DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE
23 de Fevereiro de 2018, 5:41

Mais um massacre, mais um apelo à contenção da venda de armas nos Estados Unidos. Não valerá a pena ter grande esperança, os massacres de inocentes vão continuar a acontecer. O debate não pretende ter um módico de seriedade porque não se conseguem ultrapassar os argumentos falaciosos que não querem discutir políticas, mas sim emoções.

Se o debate fosse sério, haveria muito caminho para fazer antes de chegar a uma mirífica proibição das armas – poder-se-ia começar por exigir medidas eficientes de avaliação do estado mental dos requerentes, implementar um registo nacional que determine quantas armas tem cada pessoa, limitar o tipo de arma que se pode adquirir e a forma como isso se faz. Mas tudo isto iria limitar o mega-negócio do armamento.

O verdadeiro problema não é a defesa das armas. O verdadeiro problema é a distorção democrática que se vive nos Estados Unidos nos últimos quarenta anos, em que o dinheiro compra quem concorre às eleições e mantém os eleitos na completa dependência dos lobbies que atiram dinheiro para cima do sistema político. É neste cenário que medram os interesses de defesa das armas – que são um negócio e não podem nunca ser confundidos com patriotismo. Esta história já se verificou com as tabaqueiras, com as petrolíferas e com as empresas de telecomunicações, e ainda acontecem também com as financeiras.


O outro drama que contamina os Estados Unidos, e que depende tanto do sistema mediático como do político, tem a ver a desvalorização da ciência e do rigor. O corolário da sociedade do espetáculo é o que trata todos os argumentos por igual e dá legitimidade e espaço público a quem não debater ideias mas apenas ganhar a guerra das emoções. É tão idiota defender que a terra é plana como afirmar que não são as armas que matam – mas os autores destes discursos passeiam-se alegremente pelas televisões, pelas rádios e pelas câmaras legislativas enquanto representantes eleitos. Alguns serão cínicos ao ponto de ter noção das barbaridades que dizem, outros repetem acefalamente o que lhes mandam dizer. E esta galáxia é chefiada por Donald Trump, o analfabeto funcional que despreza os briefings de inteligência das agências secretas mais poderosas do mundo e prefere ser informado pelo talk-show matinal da Fox. Com muitos americanos a preferir viver na sua bolha de realidade alternativa e o cenário político completamente partido, o debate é impossível e os consensos são altamente improváveis – pelo que não valerá muito a pena ter grande esperança numa reforma legislativa a curto prazo.          

O Acordo Mortográfico na AR


O Acordo Mortográfico na AR

A petição “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” é amanhã debatida na AR, bem como um louvável projecto de Resolução do PCP.

ANTÓNIO BAGÃO FÉLIX
20 de Fevereiro de 2018, 6:44

A petição “Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” é amanhã debatida na AR, bem como um louvável projecto de Resolução do PCP, o único que recomenda o recesso de Portugal do AO, outras medidas de acompanhamento e uma nova negociação das bases e termos de um eventual Acordo Ortográfico.

Com base nesta amálgama ortográfica, no que leio e no que até já vi ensinado (!), ficcionei um texto-caricatura para ilustrar este absurdo na nossa língua escrita. A bold assinalei as aberrações endógenas e toda a gama de facultatividades do AO e, em itálico, realcei erros resultantes da total confusão do “pós-acordismo” e todos os dias vistos nos jornais e televisões. Ei-lo:

A receção do hotel estava cheia e o recetor não tinha mãos a medir. Agora que a recessão já não é um fato, ninguém para o turismo. A fila era de egípcios do Egito que não têm o “p” no nome do país porque lhes disseram que a concessão do visto dependia da conceção do mesmo. Entre eles, alguns eram cristãos coptas, perdão cotas.

O hotel tinha dois restaurantes tão suntuosos quanto untuosos: o cor-de-rosa e o cor de laranja (este sem direito a hífens), porque o diretor mandou adotar o AO. Quer dizer, foi uma adoção sem adoçar o citrino. Os coutentes não ficaram contentes.

Um dos egípcios (um ator atormentado) perguntou se havia produtos lácteos dos nossos laticínios. Tudo isto por causa de um “c” que tanto faz parte, como não faz parte do leite.

Outro dos turistas que se havia zangado quis retratar-se e, para isso, resolveu retratar os amigos com uma “selfie”. Um outro rececionista (semi-interno e semiletrado) e que mais parecia um espetador, distraiu-se e picou-se num cato que, esse sim, era um doloroso espetador. Ficou com as calças semirrotas que lhe levariam parte do salário semilíquido.

Outro, por acaso um cocomandante – que tinha sido corréu porque correu no Cairo que era corruto – estava com um problema ótico e queria um médico. Tinha uma infeção que, mesmo sem o “c”, teimava em ser infecciosa. Foi-lhe sugerido ir a um hospital. O turista lá foi e, num dos corredores em forma de semirreta onde cruzou com um marreta, depois de passar pelas zonas infantojuvenil e materno-infantil (outra vez os hífens…), viu uma seta para a esquerda com “doenças óticas” e outra para a direita também com “doenças óticas”. Coisas de arquitetos ou arquitetas. Baralhado, virou para a direita. Foi visto por um oftalmologista quando precisava de um otorrino para o ouvido. Lá está: caiu o “p” ocular, que já tinha sido dispensado no auricular!”. O melhor é o míope ser surdo e vice-versa.

Por causa do facto transformado erradamente em fato, aumentou a gama dos fatos: há o fato tributário que assenta que nem uma luva. Há a união de fato mesmo que sem ele. Há o fato consumado que leva a que a Crimeia seja russa de fato. Os turistas ficaram encantados com tantos fatos no Verão.

Entretanto, foi desligado o interrutor do elevador porque precisava de uma interrupção para uma inspeção.


O diretor do hotel, preocupado, fez uma reunião e ficou de elaborar uma ata que nem ata nem desata. É que o seu corretor ortográfico também não ajudou e por isso pensou pedir ajuda a um amigo corretor da Bolsa. Acontece que, mesmo com tato, não encontrou logo o contato dele. Quando o conseguiu, o corretor ficou zangado dizendo-lhe “eu cá não me pelo pelo pelo de quem para para desistir”. Houve uma grande deceção na secção e, perentoriamente, falou-se numa rutura. No fim, porém, feita a arimética das contas, tudo acabou num pato de afetos.

The fascist movement that has brought Mussolini back to the mainstream



The long read
The fascist movement that has brought Mussolini back to the mainstream

Italy’s CasaPound has been central to normalising fascism again in the country of its birth. Now they’re trying to enter parliament. By Tobias Jones

Thu 22 Feb 2018 06.00 GMT

On the night of 27 December 2003, five men broke into a huge, empty office complex in Rome, just south of the city’s main railway station, Roma Termini. A few days earlier, the men had put up fake fliers, appealing to the public for help to find a lost black cat called “Pound”. It was a way to avoid suspicion as they surveyed the building before breaking in.

Nothing was left to chance: the date, between Christmas and New Year, was chosen because there wouldn’t be many people around. Even the name and colour of the cat wasn’t casual: “Pound” was a nod to the American poet and fascist evangelist Ezra Pound. And black was the colour associated with their hero, Benito Mussolini. They planned to start a radio station from inside their new building called Radio Bandiera Nera – “Black Flag Radio”.

The man giving orders that night was Gianluca Iannone. Then 30, he was tall, burly and brusque. With his shaved head and thick beard, he looked a bit like a Hells Angel. He had “me ne frego” (“I don’t care” – the slogan used by Mussolini’s troops) tattooed diagonally across the left side of his neck. Iannone was famous in fascist circles as the lead singer in a rock band called ZZA, and as the owner of a pub in Rome, the Cutty Sark, which was a meeting point for Rome’s extreme right.

The five men were nervous and excited as they took turns working on the wooden front door with crowbars. The others gathered close by, to watch and to provide cover. Once the door gave, they piled inside, pushing it shut behind them. What they found was breathtaking. There was a large entrance hall on the ground floor, a grand staircase, even a lift. There were 23 office suites in the seven-storey block. The previous occupier, a government quango, had moved out the year before, so the place was freezing and damp. But it was huge, covering thousands of square metres. The cherry on the cake was the terrace: a large, walled roof from which you could see the whole of Rome. The men gathered together up there and hugged, feeling that they had planted a flag in the centre of the Italian capital – in a gritty neighbourhood, Esquilino, which was home to many African and Asian immigrants. Iannone dubbed their building “the Italian embassy”.

That building became the headquarters of a new movement called CasaPound. Over the next 15 years, it would open another 106 centres across Italy. Iannone, who had been in the Italian army for three years, described each new centre as a “territorial reconquest”. Because every centre was self-financing, and because they claimed to “serve the people”, those new centres in turn opened gyms, pubs, bookshops, parachute clubs, diving clubs, motorbike clubs, football teams, restaurants, nightclubs, tattoo parlours and barbershops. CasaPound suddenly seemed everywhere. But it presented itself as something beyond politics: this was “metapolitics”, echoing the influential fascist philosopher Giovanni Gentile, who wrote in 1925 that fascism was “before all else a total conception of life”.

Until then, fascist revivals had usually been seen, by the Italian mainstream, as nostalgic, uncultured and thuggish. CasaPound was different. It presented itself as forward-looking, cultured, even inclusive. Iannone had been drawn to fascism in his youth because of a “fascination with the symbols”, and now he creatively mixed and matched code words, slogans and symbols from Mussolini’s ventennio” (as his 20-year rule is known), and turned them into 21st-century song lyrics, logos and political positions. In a country in which style and pose are paramount, CasaPound was fascism for hipsters. There were reports of violence, but that – for young men who felt aimless, sidelined, even emasculated – only added to the attraction. Many flocked to pay their €15 to become members.

By the early 2000s, it was no longer taboo for mainstream politicians to speak warmly of Mussolini: admirers of Il Duce had become government ministers, and many fringe, fascist parties were growing in strength – Forza Nuova, Fronte Sociale Nazionale, and various skinhead groups. But where the other fascists seemed like throwbacks to the 1930s, CasaPound focused on contemporary causes and staged creative campaigns: in 2006 they hung 400 mannequins all over Rome, with signs protesting about the city’s housing crisis. In 2012, CasaPound militants occupied the European Union’s office in Rome and dumped sacks of coal outside to protest on behalf of Italian miners. Many of their policies looked surprising: they were against immigration, of course, but on the supposedly “progressive” grounds that the exploitation of immigrant labourers represented a return to slavery.

Most Italians have been watching CasaPound with a mixture of fascination and alarm for 15 years, trying to work out quite what it is. The movement claims it is a democratic and credible variant of fascism, but it is accused of encouraging violence and racism. CasaPound militants have repeatedly told me that they’re a unifying force for Italy, but many Italians worry that they are merely recreating historical divisions in a society with a profound identity crisis.

That “CasaPound question” is now being posed with urgency, because it is aspiring to enter parliament next month. On 4 March, Italians will go to the polls in a general election in which centre-right and far-right parties are expected to triumph. CasaPound’s own electoral chances are slim: although in the past they have received nearly 10% of the vote in certain constituencies, they will need at least 3% of all votes nationwide to gain any parliamentary seats, which seems almost inconceivable. Still, the proliferation and growth of rival far-right parties is not a sign of the movement’s obsolescence, but of its success. For 15 years, CasaPound has been like the yeast in the far-right dough – the ingredient that makes everything around it rise.

CasaPound germinated in the late 1990s as a sort of Mussolini-admiring drinking club. Every Monday night, a dozen men would meet in the Cutty Sark and “plan what next,” as one recalled. It was there that Iannone met the man who would become his deputy, Simone Di Stefano. Di Stefano was two years younger and quieter, but a lifelong rightwing militant. “We were situationists trying to wake people up”, Di Stefano says, looking back, “bohemian artists based on models like Obey Giant [Shepard Fairey] and Banksy”.

In 1997, Iannone, Di Stefano and their mates had put up 10,000 stickers all over Rome: above eyeless faces, with barcoded foreheads and demented smiles, were just three unexplained words: Zeta Zero Alfa. It was the name of a punk rock band Iannone had decided to launch, its name hinting at both the American rock legends ZZ Top and at the notion that the world needed to go back to the beginning, back to the “alfa”.

Zetazeroalfa became, in the late 90s and early 2000s, an evangelising force for fascism. Touring all over Italy, the band sang raucous punk-rock songs with lyrics such as “nel dubbio, mena” (“if in doubt, beat up”) or “amo questo mio popolo fiero / che non conosce pace” (“I love this proud people / that doesn’t know peace”). In those early days, Iannone had about 100 hardcore fans, who doubled as roadies, crew, security and salesmen. The group sold as many T-shirts as they did CDs, with lines such as Picchia il vip (“beat up the VIP”) and Accademia della sassaiola (“academy of stone-throwing”). The song that became a crowd favourite was Cinghiamattanza, meaning “death by belt”: at all the gigs it became a ritual for fans to take off their belts and leather each other.

In those years, Iannone was more rock star than blackshirt. His informal movement was more about music than manifestos. CasaPound’s in-house lawyer, Domenico Di Tullio, was once the bassist and vocalist in a far-right band called Malabestia, “evil beast”. He was introduced to CasaPound when Iannone was teaching Thai boxing in a gym. “CasaPound has always been,” Di Tullio said, “halfway between politics and rock’n’roll.” Iannone was a canny entrepreneur: he co-founded a right-wing music label called “Rupe Tarpeia” – the name of the Roman rock from which traitors were thrown to their deaths.

Iannone – who was obsessed with Chuck Palahniuk’s Fight Club – had been arrested a few times for assault, once for beating up an off-duty carabiniere at Predappio, the burial shrine of Mussolini, because he was “drunk and being stupid”. Revisionist historians and rightwing politicians in the 1990s worked hard to rehabilitate Mussolini: expressing admiration for him was no longer considered heretical, but a sign of courageous thinking. Mussolini’s regime was airbrushed as benign – “he never killed anybody” said Silvio Berlusconi, who became prime minister for the first time in 1994 – and depicted as superior to the corruption and chaos of the avowedly anti-fascist First Republic that lasted from 1948 until 1992. Berlusconi and his far-right allies scorned the traditional anti-fascist celebrations of 25 April, the date of Italians’ liberation from Nazi fascism.

A canny politician, Berlusconi wasn’t setting this agenda but following it. He knew it was a vote-winner. Buildings all over Italy, but especially in the south, still bear the faded letters of the word “DUCE”. There are many monuments, and even a mountain, that still bear his name. A country that doesn’t renounce its past as much as absorb it, Italy was, by the turn of the millennium, more than ready to include Mussolini’s grandchildren in the body politic.

In July 2002 the militants who had gathered around Gianluca Iannone and ZZA occupied their first building, an abandoned school north of Rome. Occupations had always been a form of protest by the far left in Italy: many squats had become “social centres” and were tacitly tolerated by police and politicians. Now the far right was trying the tactic. Iannone called the occupied school Casa Montag, after the protagonist of the Ray Bradbury novel Fahrenheit 451, Guy Montag.

It was the first of many occasions in which CasaPound would confound ideological expectations. Most people read Bradbury’s novel as a critique of an anti-intellectual, totalitarian state, but for the CasaPounders it represented their own oppression by the forces of anti-fascism in Italian politics, who they regarded as metaphorical book-burners. Anticipating the rhetoric of the alt-right, CasaPound claimed to be a space “where debate is free”.

Within 18 months, though, Iannone’s men had upgraded and moved to the very centre of Rome, occupying the huge building in Esquilino. Their aim in 2003 wasn’t political in any parliamentary sense: the militants wanted to live cheaply together, to create a space for their ideals and, most of all, to make a statement.

In the entrance hall of their new home, CasaPounders painted a hundred or so surnames in garish colours, suggesting the ideological lineage of their movement. Many were obvious – Mussolini, Oswald Mosley, Nietzsche, the writer and proto-fascist Gabriele D’Annunzio, the Italian fascist philosopher Julius Evola – but many more were bizarre or wishful: Homer, Plato, Dante, Kerouac and even cartoon characters such as Captain Harlock and Corto Maltese. All were men.

The movement never hid its admiration for Benito Mussolini. Photos and slogans of Il Duce were put up. Every believer was referred to as a “camerato” (the fascist version of “comrade”) and exchanged the old-fashioned “legionary” handshake, grasping each other’s forearm rather than the hand. Above the door on the outside of the building, in beige, faux-marble, “CASAPOVND” appeared.

What made CasaPound unique was its game of smoke-and-mirrors with a fascinated Italian media. Both Di Stefano and Iannone were very media-savvy: Di Stefano was a graphic artist, and Iannone, after the army, had worked as a director’s assistant on Unomattina, a breakfast show on RAI, the state broadcaster. They promoted CasaPound via prank calls to newspapers, the invasion of TV studios, the frenetic production of posters and stickers, the organisation of debates and the occasional act of violence.

They also began pushing for policies the left had given up hope of ever hearing again, such as the renationalisation of Italy’s banking, communications, health, transport and energy sectors. They cited the most progressive aspects of Mussolini’s politics, focusing on his “social doctrines” regarding housing, unions, sanitation and a minimum wage. CasaPound accepted that the racial laws of 1938 (which introduced antisemitism and deportation) were “errors”; the movement claimed to be “opposed to any form of discrimination based on racial or religious criteria, or on sexual inclination”.

CasaPound’s concentration on housing also appealed to voters of the old left. Its logo was a turtle (an animal that always has a roof over its head) and Ezra Pound’s name was used in part because he had railed, in his poem Canto XLV, against rent (considered usury) and rapacious landlords. One of the first things CasaPound did in its occupied building was to hang sheets from the windows protesting against rent hikes and evictions – in 2009, there were an average of 25 evictions in Rome every day. They campaigned for a “social mortgage”, in which rental payments would effectively become mortgage payments, turning the tenant into a homeowner. Within months, they had given shelter to dozens of homeless families, as well as to many camerati down on their luck.

CasaPound presented itself as the house of the ideologically homeless too. Iannone said it offered “a space of liberty, where anyone who has something to say and can’t say it elsewhere will always find political asylum”. It adopted a pose of being not a part of the debate, but the receptacle of it. It reminded some of Mussolini’s line that “fascism is the church of all the heresies”.

Iannone was always a proponent of action. He knew fascism had always grown through taking the initiative: he spoke frequently about the proto-fascist arditi (“daring ones”), a squad of volunteers fighting under D’Annunzio, who seized the town of Fiume after the first world war in an attempt to resolve a border dispute between Italy and what was then Yugoslavia. Iannone knew that Mussolini had launched his first fascist manifesto from an occupied building in the piazza of San Sepolcro in Milan. But even here, in action, CasaPound was borrowing leftwing clothes: imitating the strategy of the Italian Marxist philosopher Antonio Gramsci, it aimed for what Gramsci had called “cultural hegemony” by infiltrating the cultural and leisure activities of everyday Italians.

So CasaPound began doing outreach on an unprecedented scale: in 2006 a student movement called Blocco Studentesco was started. A fascist women’s movement, Tempo di Essere Madri (“time to be a mother”), was founded by Iannone’s wife. A pseudo-environmental group, La Foresta Che Avanza, began in order to put “the regime into nature”. (Earlier this month, 200 volunteers from La Foresta gathered to repair the huge tribute to Mussolini – the word DUX, written with pine trees – on a mountainside in Antrodoco.) The media – whether intrigued, anxious or excited – reported on every initiative: as Di Stefano told me, “everything CasaPound did became news”.

There was plenty of ideological contortionism. In 2007, CasaPound started describing itself not as fascist, but as estremo centro alto (the name of a ZZA song, which means “extreme, high centre”). It namechecked improbable influences, such as Che Guevara and the great anarchist singer-songwriters Rino Gaetano and Fabrizio De André.

That obfuscation was a continuation of what Italian fascism, contrary to stereotype, had often done. Mussolini once said: “We don’t believe in dogmatic programmes … we allow ourselves the luxury of being aristocratic and democratic, conservatives and progressives, reactionaries and revolutionaries, legals and illegals”. Mussolini’s totalitarianism often implied not fierce clarity, but slipperiness. “Mussolini did not have a philosophy,” Umberto Eco once wrote. “He had only rhetoric.”

To political scientists, this creative, eccentric force from the political extremities was captivating. Between 2006 and 2014, dozens of books were published on the movement – some by CasaPound’s friends, but others by academic presses in Italy and abroad. The latter fretted about the sinister implications of Mussolini’s favourite slogan: libro e moschetto – fascista perfetto (the rhyme boasting that “book and musket” make the “perfect fascist”). How important, people wondered, was that “musket”? CasaPound sometimes relished its violent reputation, and was sometimes angered by it. It proudly called its occupations and stunts examples of guerrilla tactics, but other times their tone was softer: they were just atti goliardici, “bohemian acts”.

That paradoxical attitude towards violence was encapsulated in the huge red letters painted on a central wall of CasaPound’s HQ: “Santa Teppa” – Holy Mob. It was the phrase Mussolini once used to describe his blackshirts. CasaPound militants say that they’re constantly under attack from leftwing “social centres” and anti-fascists. When you get to know them, though, the position is slightly different. “We’re not a violent organisation,” one militant told me, “but we’re not non-violent either.”

The fierce fighting between Italy’s partisans and fascists from 1943 to 1945 – sometimes called the country’s civil war – continued sporadically after the end of the second world war. But ever since 1952, when a law was passed that criminalised efforts to resuscitate Mussolini’s fascist party, Italian fascists have seen themselves as the victims, rather than the instigators, of state repression. In reality, however, there was no Italian equivalent of Germany’s denazification: throughout the postwar period, one far-right political party – the Movimento Sociale Italiano (MSI) – kept alive the flame of Mussolini, at its height in 1972 winning 9% or 2.7m votes. Various radical splinter groups emerged from within the MSI – the most notorious being Pino Rauti’s Ordine Nuovo, which was involved in the bombing of a bank in 1969 that killed 17 civilians.

That atrocity was the beginning of a period known as “the years of lead”: in the 1970s, far-right and far-left groups fought, shot, bombed and kidnapped not only each other, but also the public and representatives of the state. Both sides used the rhetoric of the 1940s, recalling the heroism or disloyalty of the fascists and anti-fascists from three decades earlier.

But amid the violence of the 1970s, there were attempts to tap into the “softer” side of the far-right, with festivals where music, graphic design, history and ecology were discussed. They were called “Hobbit camps”, since JRR Tolkien had long been a hero for Italian neo-fascists, who liked to quote Bilbo Baggins’ line that “deep roots don’t freeze”. There was a popular leftwing slur that fascists belonged in the “sewers”, and so a magazine called La Voce della Fogna (“The Voice of the Sewer”) was launched by unapologetics.

The neo-fascist movement that most influenced CasaPound, Terza Posizione, was founded in 1978. It claimed to reject both capitalism and communism, and – like CasaPound – tried to revive Mussolini’s social policies. (Iannone has its symbol tattooed on the middle finger of his left hand. His deputy, Simone Di Stefano, spent a year in London working with one of the Terza Posizione founders in the 1990s.)

In the same year, two young militants were shot outside the offices of the MSI in Acca Larentia in Rome. That evening, when a journalist allegedly disrespected the victims by flicking a cigarette butt in a pool of blood, a riot began in which a third young man was killed by a policeman. Other deaths followed that initial bloodshed: the father of one of the young men killed committed suicide. On the first anniversary of Acca Larentia, another militant was killed by police.

Acca Larentia seemed proof, to fascists, that they were sitting ducks. Some renounced extremism altogether, but others simply took it further. A far-right terrorist organisation, NAR (the “nuclei of armed revolutionaries”) was founded and took part in various killings and the bombing of Bologna railway station in 1980, in which 85 people died. As a state crackdown on the far-right began, the three founders of Terza Posizione fled abroad and the leaders of NAR were either killed or imprisoned.

For a generation, through the 1980s and early 1990s,fascism seemed finished. But when Silvio Berlusconi burst into politics looking for anti-communist allies, he identified the MSI as his ideal political partner. The party renamed itself the National Alliance, and became the second-largest component in Berlusconi’s ruling centre-right coalition in 1994. The wind had changed completely: many of the militants on the far-right in the 1970s – old hands from the MSI – were now in government. In 1999 the three founders of Terza Posizione returned from exile.

That was the context in which CasaPound, in the early 2000s, first began to flourish: it was full of marginalised men who had grown up in the wilderness years of the 80s and early 90s. They were convinced that fascists had been mistreated and killed by “communist hatred and servants of the state”, as a plaque memorialising the murders at Acca Larentia put it.

But in fact, their bread was buttered on both sides: they presented themselves as underdogs, but their ideological fathers were now at the very top of Italian political power. They could claim to be the victims of repressive laws banning the revival of fascism, but because those laws were never enforced, they could proselytise with impunity.

By 2005, CasaPound was toying with electoral politics. One its militants stood for election in Lazio on the electoral list of one of Berlusconi’s cabinet ministers, who had been a press officer of the MSI. From 2006 until 2008 CasaPound joined another offshoot of the MSI, the “Tricolour Flame”. Neither alliance produced any seats in parliament, but both afforded more publicity and “respectability” to the slow-moving but determined “turtle”.

In 2008, Gianni Alemanno, who had been imprisoned as a far-right militant, became mayor of Rome. He looked on CasaPound’s occupations with a decidedly indulgent eye – and that same year CasaPound occupied another building: an abandoned railway station near the Stadio Olimpico. Called Area 19 (1919 was the year Mussolini announced the first fascist manifesto), it became a gym by day and nightclub by night.

Meanwhile young CasaPound heavies enjoyed public shows of force. In 2009, Blocco Studentesco – CasaPound’s youth movement – came to Rome’s central square, Piazza Navona, armed with truncheons painted with the Italian tricolor. They found a use for them on leftwing students. When one TV programme criticised Blocco Studentesco, its offices were “occupied” by CasaPound militants.

On 13 December 2011, Gianluca Casseri, a CasaPound sympathiser in Tuscany, left home with a Magnum 357 in his bag. He was a taciturn loner, 50 years old, rotund with short, grey hair, but had found a home in CasaPound: he had held a launch for his fantasy novel – The Keys of Chaos – at the local club.

On that December morning, Casseri had a plan to shoot as many immigrants as possible. He went to a square in Florence and, at 12.30pm, killed two Senegalese men, Samb Modou and Diop Mor. He shot another man, Moustapha Dieng, in the back and throat and then got in his blue VW Polo and drove off. Just over two hours later, Casseri was at the city’s central market, where he shot two more men, Sougou Mor and Mbenghe Cheike, who survived the attack. He then turned his gun on himself in the market’s underground carpark.

After Casseri’s murders, CasaPound’s leaders were invited on to national television to face the accusation that they were fomenting violence. In a special programme about the killings, the former president of the Rai TV channel accused Iannone of having “ideologically armed” the killer. Ezra Pound’s daughter, Mary de Rachewiltz, began a legal action (which she eventually lost) to stop CasaPound using and sullying her father’s name. “They distort his ideas”, she said, “they’re violent. [My father] wanted an encounter between civilisations.”

It was true that CasaPound’s language and imagery was relentlessly combative. In its Rome bookshop – “Iron Head” – you can buy posters of insurgents from far-flung civil wars with automatic weapons wearing ZZA T-shirts. They speak about “trincerocrazia”, an “-ocracy” for people who have done their time in the trenches. The shell of their turtle logo also has a military meaning: it represents the testuggine, the carapace of shields used by the Roman army. All of this makes the movement edgy and decidedly testosteronic: 87% of the movement’s Facebook supporters are male and 62% are between 16 and 30.

It’s a movement that is tight, compact and united. When you’re among the militants inside that shell, the disdain for the outside world is almost cultish. The separation between insider and outsider is clear and loyalty is total: “I do whatever Gianluca [Iannone] tells me to”, one female militant has said. The movement has published a political and historical glossary for all novice militants, so they always know what to say.

Iannone himself is forcefully charismatic and physically imposing – tall, tattooed and gravel-voiced – and perhaps even bears a slight resemblance to Mussolini. It’s easy to see why lost youngsters might be desperate to please (and scared to displease) him. “He’s a very pure leader”, Di Stefano told me, with evident admiration, as we took a walk with his two chihuahuas – called “Punk” and “Rock”.

By 2013, aggressive leadership was what a lot of Italians were longing for. The country was facing an unprecedented crisis of confidence. In 2010 youth unemployment was at almost 30%, and would rise to over 40% by 2015. That year, Italy’s national statistics office suggested that almost 5 million Italians were living in “absolute poverty”. The degradation in certain suburbs – the lack of rubbish collections was just the most visible example – suggested that the Italian state was, in places, almost entirely absent. The success of the populist Five Star Movement – coming from nowhere to win 25.55% of the vote in the 2013 elections – showed the Italian electorate would respond to a party that was angry and anti-establishment. (The fathers of two of the leading lights of the Five Star Movement, Luigi Di Maio and Alessandro Di Battista, were both in the MSI.)

By then CasaPound was becoming known far beyond Italy. The lift in its Rome HQ was covered by stickers with the logos of far-right pilgrims from across the globe. CasaPound had always voraciously consumed foreign trends and repackaged them for an Italian audience: it had absorbed the anticapitalist ideas of France’s Nouvelle Droite (“new right”) movement, and built friendships with members of Greece’s neo-Nazi Golden Dawn. Now French visitors started talking about a 2012 book by Renaud Camus called The Great Replacement: it spoke of the idea that native Europeans would soon be completely sidelined and substituted by waves of immigrants. It was a theory that had caught on in the US. This was the root of the “identitarian” doctrine, which claimed that globalisation had created a homogeneous culture with no distinct national or cultural identities. True pluralism – “ethnopluralism” – would mean racial separation.

These ideas famously influenced both Steve Bannon at Breitbart and the American white supremacist leader Richard Spencer – but they also percolated into the thinking of CasaPound’s cultural attache, Adriano Scianca. Scianca, who lives in Umbria, is the editor of CasaPound’s magazine, Primato Nazionale (which has a circulation, they say, of 25,000). In 2016 he published a book called The Sacred Identity: “The cancellation of a people from the face of the earth,” he wrote, “is factually the number one [aim] in the diary of all the global oligarchs.” It sounds silly, but these ideas soon made their way into mainstream newspapers – and very quickly racial separation became official CasaPound policy.

Throughout 2014 and 2015, CasaPound leaders organised rallies against asylum centres that were due to open. They formed a movement, with Matteo Salvini’s Northern League (a formerly separatist movement which was, by then, purely nationalist) called Sovereignty: “Italians First” was the slogan. All over Italy – from Gorizia to Milan, from Vicenza to Genoa – every time a vacant building was converted into an asylum centre, CasaPound members would make friends among the locals opposing the centres, distributing food parcels, clearing rubbish, and offering strategies and strong-arms. (CasaPound argued that because a proportion of immigrants had arrived illegally, their opposition was about legality rather than race.)

Simone Di Stefano is CasaPound’s political leader and its most prominent candidate in next week’s elections. With his neat, salt-and-pepper hair and trim beard, he looks like any other moderate politician. But his problem is now the opposite of his rhetoric: it’s not that the Italian establishment excludes the far-right from politics, but that there are now so many far right parties, CasaPound seems just one among many. Di Stefano is, therefore, distinguishing himself by campaigning to leave the European Union and urging a military intervention in Libya to halt the flow of migrants: “We have to resolve the problem of Africa,” he told me.

These ideas are not likely to appeal to many Italian voters – but CasaPound’s job is already done. It has been essential to the normalisation of fascism. At the end of 2017, Il Tempo newspaper announced Benito Mussolini as its “person of the year”. It wasn’t being facetious: Il Duce barged into the news agenda every week last year. A few weeks ago, even a leftwing politician in Florence said that “nobody in this country has done more than Mussolini”. Today, 73 years after his death, he is more admired than traditional Italian heroes such as Giuseppes Garibaldi and Mazzini.

CasaPound has also been a participant in an escalating political conflict in which violence – both verbal and physical – has become commonplace. When you speak to CasaPound militants, they’re quick to say they only commit violence in self-defence, but their definition of self-defence is extremely elastic. Luca Marsella, a top colonel in the movement, once said to 14-year-old schoolchildren who were protesting against a new CasaPound centre: “I’ll cut your throats like dogs, I’ll kill all of you.” Another militant was convicted of beating up leftwing activists in Rome in 2011 when they were putting up posters. Another activist, Giovanni Battista Ceniti, was involved in a murder, though – as Iannone pointed out – he had already been expelled from CasaPound for “intellectual laziness”. In February last year, in Viterbo, two militants, Jacopo Polidori and Michele Santini, beat up a man who had dared to post an ironic comment about CasaPound on Facebook. A leftwing site has compiled an interactive map of episodes of reported fascist violence across the peninsula – and there are so many incidents that you can barely see the boot of Italy.

Then, earlier this month, a man who had previously stood for election with the far-right Northern League, and had ties to CasaPound, went on a two-hour shooting rampage in the town of Macerata. Luca Traini fired his Glock pistol at anyone with black skin. What was shocking wasn’t just the bloodshed (he injured six people, but all survived), but that it all seemed unsurprising in the current climate. Traini’s inspiration was old-fashioned fascism: he had the “Wolfsangel” rune (used by both Nazis and Italy’s Terza Posizione) on his forehead. He gave a Roman salute at the monument to Italy’s war dead.

But in the aftermath of his shooting, mainstream politicians on the so-called centre-right blamed immigration, not Traini. Berlusconi, who has embraced the far right as he attempts to engineer another election win, spoke of a “social bomb” created by foreigners. Italy, he said, needs to deport 600,000 illegal immigrants.

On Sunday 7 January this year, CasaPound organised a mass rally in Rome to mark the 40th anniversary of the Acca Larentia killings. Four or five thousand people turned up, many wearing similar clothes: bomber jackets and black beanies, military fatigues or drainpipe jeans. There were 50 men in red CasaPound bibs, the security detail, shepherding the troops. Not everyone was a CasaPound militant, but the other groups all fell in behind Gianluca Iannone and Simone di Stefano. This, it was clear, was their show.

 Gianluca Iannone at the 7 January CasaPound rally in Rome.
 Gianluca Iannone at the 7 January CasaPound rally in Rome. Photograph: Stefano Montesi - Corbis/Corbis via Getty Images
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They walked the half-mile to the site of the killings in silence. “We’re here, and always will be” was the implicit message. In front was a huge banner, held up by 20 foot batons, saying “honour to the fallen camerati”. There was a police escort in case it kicked off, but the only tension was from honking drivers, fed up of waiting an hour for the river of humans to pass.

At the end of the march, CasaPound security guards lined up the troops in the courtyard where their three camerati fell. On the road either side, the rest of the marchers gathered. A voice called all the camerati to attention. In one split second, hands dropped to sides, and feet were pulled together. “Per tutti i camerati caduti”, a voice barked. All the men raised their right arms in a straight-arm salute: “Presenti!” they shouted. The noise was so loud that a car alarm went off, and dogs started to bark. The ritual was repeated twice more, then the voice barked “at ease”, and the troops dispersed, heading home in the cold January night.

In 15 years, CasaPound has grown so large that its initial ambition – to be accepted into the theatre of “open debate” – is now obsolete. Instead, its leaders now talk of eradicating anti-fascism entirely. Having once presented itself as playful, it is now deadly serious: “I’ll be a fascist as long as anti-fascists exist”, Iannone says. Fascism, he enthuses, was “the greatest revolution in the world, the completion of the Risorgimento [Italian unification]”. Mussolini’s regime was “the most beautiful moment of this nation”. When you ask him if the anti-fascists aren’t also, as the national anthem says, brothers of Italy, he stares out from under his heavy eyelids: “Cain and Abel,” he says, “were brothers.”