Anunciado
fecho da empresa que detém jornais Sol e i
ANA HENRIQUES e JOÃO
PEDRO PEREIRA 30/11/2015 - 13:09 (actualizado às 16:17) / PÚBLICO
Decisão
do grupo liderado por Álvaro Sobrinho foi transmitida esta
segunda-feira aos trabalhadores. Novo projecto jornalístico
integrará apenas um terço dos actuais efectivos
Os accionistas do
diário i e do semanário Sol decidiram encerrar a empresa detentora
dos dois títulos, a Newshold, liderada pelo empresário Álvaro
Sobrinho, ex-presidente do BES Angola. Em seu lugar surgirá um novo
projecto jornalístico que deverá manter os títulos mas que
acolherá apenas um terço dos efectivos da actual estrutura. O plano
passa por despedir cerca de 120 pessoas e manter apenas 66
trabalhadores, com salários inferiores aos actuais.
A decisão foi
anunciada esta segunda-feira num plenário de trabalhadores. A nova
publicação incluirá uma edição diária e outra semanal, ao
sábado, o que pode implicar a manutenção dos títulos de um ou de
ambos os jornais, mas com um projecto totalmente reformulado. Na
origem do fecho, que foi marcado para 15 de Dezembro, estão os
elevados prejuízos dos dois jornais, que em 2014 foram da ordem dos
4,4 milhões de euros no Sol e dos 3,8 no i. Quer numa quer noutra
empresa registavam-se já atrasos no pagamento de ordenados.
No plenário foi
também anunciado que os salários de Novembro dos profissionais das
duas publicações serão pagos até ao final da semana, enquanto o
subsídio de Natal será entregue até à época festiva. O PÚBLICO
tentou contactar com a Newshold, mas sem sucesso. A presidente em
exercício do Sindicato de Jornalistas, Ana Luísa Rodrigues, já
repudiou a situação e alerta os trabalhadores para que não
assinem, "no calor do momento", documentos que lhes sejam
apresentados e que lhes possam mais tarde vir a retirar direitos -
nomeadamente autorizações que dispensem a empresa de apresentar uma
caução para os créditos devidos aos trabalhadores.
"O que está a
acontecer é uma machadada na diversidade da paisagem informativa em
Portugal", observa Ana Luísa Rodrigues. "Não se faz um
diário e um semanário com menos de 70 pessoas". Os dirigentes
sindicais vão agora pedir uma reunião à administração da
Newshold e outra à pessoa envolvida na manutenção dos dois
títulos, o administrador executivo Mário Ramires - que irá
integrar a estrutura accionista do novo projecto -, com vista à
preservação dos dois jornais, assim como dos postos de trabalho,
"renunciado à solução mais fácil do encerramento e do
despedimento".
Os números mais
recentes da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens (APCT),
relativos ao período entre Janeiro e Agosto deste ano, indicavam
que, no segmento circulação impressa, o i foi o único jornal a ter
subidas entre os cinco generalistas, passando para 3969 exemplares
este ano, mais 530 que em 2014 (quota de 2%). O diário tinha
encerrado 2014 com uma média de circulação paga de 4118 exemplares
por dia. No segmento digital, o diário conseguiu 64 vendas digitais,
o triplo do conseguido no período homólogo do ano passado, que
concluiu com menos de duas dezenas de assinaturas digitais.
Na circulação
impressa, nos primeiros oito meses do ano, o Sol caiu dos 21.705 para
os 20.015 (-7,79%). O semanário tinha fechado 2014 com uma média de
vendas de 23 mil jornais por semana, o que representou uma quebra
homóloga de 2,7%.
O i foi fundado em
2009 pelo grupo Lena, que o vendeu dois anos depois, tendo passado
pelas mãos do empresário Jaime Antunes e do dono de uma gráfica
antes de ser comprado pelo grupo de media luso-angolano. Já o Sol
nasceu em 2006, tendo sido sempre dirigido pelo ex-director do
Expresso José António Saraiva – que irá continuar ligado ao novo
projecto, tal como a directora-adjunta do i, Ana Sá Lopes. Os seus
accionistas iniciais eram o empresário de Tondela Joaquim Coimbra, o
BCP, a Imosider e quatro jornalistas fundadores, entre os quais
Saraiva e Ramires. Depois de uma crise financeira o semanário foi
vendido, em 2009, à Newshold, que chegou a ter uma quota na Cofina,
proprietária do Correio da Manhã, e a manifestar interesse na
privatização da RTP.
Álvaro Sobrinho foi
indiciado por branqueamento de capitais no âmbito de um inquérito
do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, tendo
recentemente visto o Tribunal da Relação de Lisboa criticar a
investigação e levantar-lhe um arresto de bens que havia sido
decretado pelo juiz Carlos Alexandre.