quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A defesa da Tapada das Necessidades e o Anteplano de Salvaguarda / O meu partido é Lisboa (2), por António Sérgio Rosa de Carvalho


  

OPINIÃO

A defesa da Tapada das Necessidades e o Anteplano de Salvaguarda

 

Para defender o património da Tapada das Necessidades, é necessário em primeiro lugar definir as áreas em que não se pode construir, apenas restaurar, e os edifícios que poderão ser reabilitados apenas para usos que se coadunem com a identidade histórica e o património natural do espaço.

 

4 de Agosto de 2021, 0:30

https://www.publico.pt/2021/08/04/opiniao/opiniao/defesa-tapada-necessidades-anteplano-salvaguarda-1972854

 

O Anteplano de Salvaguarda da Tapada das Necessidades publicado pela CML no dia 1 de Junho, na sequência de uma condicionante da DGPC (Direcção-Geral do Património Cultural) à aprovação de um projecto apresentado em 2019, está genericamente bem estruturado e com informação relevante sobre o património natural e histórico em questão. Mas constitui um documento híbrido: um inventário do que existe entrelaçado com um plano de acção.

 

Na nossa opinião, um Plano de salvaguarda deveria ter sido elaborado antes de um concurso público (2015), de um contrato de concessão (2016), de um projecto para obras de reabilitação no âmbito da Concessão de Exploração de um conjunto de edifícios na Tapada das Necessidades (2017) e da aprovação do licenciamento das obras em 2019. A iniciativa da CML e o projecto de intervenção têm suscitado a apreensão de muitos cidadãos preocupados com a Tapada das Necessidades, manifestada numa petição pública com mais de 11.800 assinaturas, e por diversas outras acções.

 

Na verdade, concordando que a Tapada necessita há muito de cuidados adequados à sua importância histórica e patrimonial, nomeadamente a recuperação de edifícios e infraestruturas e a instalação de serviços prioritários de índole cultural ou de apoio mínimo aos visitantes e não de construções para outros fins ou da realização de eventos de massa, defende-se que as intervenções necessárias devem ter em conta as características muito especiais do local e as condicionantes da respectiva envolvente urbana.

 

Esperava-se, assim, que o Anteplano desse ao processo uma orientação clara, independente e competente e não um aval sem justificação ao projecto inicial. Salientam-se os seguintes aspectos relevantes, entre outros:

 

A instalação no antigo jardim zoológico, no centro de um contínuo histórico da Tapada, de cafetaria/restaurante, em contradição manifesta com princípios gerais enunciados no próprio Anteplano.

A não indicação do que deveria ser a ocupação futura nem a volumetria dos edifícios a substituir os que estão previstos demolir na designada Zona Norte e que deveriam ser recuperados para apoio a projectos comunitários, para a gestão da Tapada ou mesmo para a instalação de um pequeno “Café” com esplanada.

A não priorização da recuperação de unidades históricas como a Casa do Fresco e a Estufa.

A não fixação de um horário apenas diurno.

Considera-se assim que o Anteplano de Salvaguarda admite a proposta de concessão já aprovada e lesiva da integridade espacial e natural do lugar.

 

Em suma, para defender o património da Tapada das Necessidades, é necessário em primeiro lugar definir as áreas em que não se pode construir, apenas restaurar, e os edifícios que poderão ser reabilitados apenas para usos que se coadunem com a identidade histórica e o património natural do espaço.

 

Subscrevem

Vítor Manuel Guimarães Veríssimo Serrão, Historiador da Arte, Professor Catedrático da Fac. Letras da Universidade de Lisboa

Fernando Nunes da Silva, Engenheiro, Professor Catedrático UL/IST

Helena Roseta,  Arquitecta

Ana Benavente, Professora Catedrática, Coord. do Observ. de Politicas de Educação e Desenv.

Luísa Schmidt, Socióloga, Investigadora do ICS-UL

Elsa Severino, Arquitecta Paisagista

Maria do Rosário Gama, Professora, co-fundadora da APRE!

Rui Manuel do Rosário Costa, Arquitecto Paisagista, MNT

Luísa Pacheco Marques, Arquitecta

Luís Moniz Pereira, Engenheiro, Professor Catedrático Emérito da UNL

Eugénio Sequeira, Engenheiro Agrónomo, ex-presidente da Liga para a Protecção da Naturez

José Ferrão Afonso, Historiador da Arte, Professor Auxiliar da Escola das Artes da Univ. Católica Porto

Paulo Ferrero, Fundador do Fórum Cidadania Lx

António Patrício de Sousa Betâmio de Almeida, Engenheiro, Professor Catedrático Emérito UL/IST

Mariana C. Rebelo Andrade Pyrrait, Arquitecta Paisagista

Jorge Farelo Pinto, Arquitecto

Pedro M.M. Pais de Vasconcelos, Professor Catedrático Jubilado da Fac. de Direito da Universidade de Lisboa

Leonor Mª R. Leitão Pais de Vasconcelos, Residente Calçada das Necessidades

João Nugent Ramos Pinto, Diplomata

Gonçalo Andresen Guimarães Leitão, Diplomata

Jorge A. Braga de Macedo, Professor Catedrático Jubilado da Fac. Economia da Universidade Nova

Mª Luísa Almeida Ribeiro de Macedo, Bibliotecária

Pedro Leitão Pais de Vasconcelos, Professor da Faculdade de Direito da Universidade Católica

Álvaro Vasconcelos, Fundador do Fórum Demos, Investigador do CEISXX, Univ. de Coimbra

Clara Rowland, Professora Associada no Dep de Estudos Portugueses da FCSH

Maria Manuela Correia Braga, Professora de História da Arte

Maria de Lourdes Riobom, Professora Universitária, ex-directora Serviço de Educação do MNAA

José Afonso Taveira Sanches Furtado, Ex-director da Biblioteca de Arte da Fundação Gulbenkian

João Miguel de Castro Rosas Leitão, General de Transmissões




O meu partido é Lisboa (2)

 

As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa e participativa.

 

António Sérgio Rosa de Carvalho

22 de Abril de 2021, 17:20

https://www.publico.pt/2021/04/22/opiniao/noticia/partido-lisboa-2-1959644

 

O número 2 neste título refere o facto de ele ser utilizado pela segunda vez. Com efeito, ele foi utilizado anteriormente por mim numa análise crítica do percurso político de António Costa ilustrado pelo título do seu livro Caminho Aberto. Tratava-se de um cargo como presidente da autarquia constituir apenas um ‘trampolim’ para “voos mais altos”, como, aliás, se veio a confirmar.

 

O que se pretende de um candidato à Câmara Municipal de Lisboa? Um genuíno interesse e apelo baseado num conhecimento profundo dos verdadeiros desafios da cidade adquirido por anos de observação, reflexão e participação. Tudo isto, traduzido numa grande capacidade de gestão consciente e cuidada junto a efectiva visão estratégica, equilibrada entre desenvolvimento e salvaguarda, também com adequada sensibilidade para as questões sociais e a urgência no campo da habitação.

 

Ora, Carlos Moedas apresentou uma declaração de amor à cidade baseada ‘numa mão cheia de nada’ incapaz de nos convencer da sua maturidade de conhecimento dos verdadeiros desafios da cidade no presente e no futuro. Ficámos com a impressão de que ele constitui apenas o candidato de forças políticas moribundas, que assim e desesperadamente procuram um renascimento.

 

Fica-se nitidamente com a impressão de que, em essência, não se trata de uma ‘Fénix’, mas de uma inefectiva e mera jogada política definida pelo vazio de um falso mérito passado.

 

Ou não perceberam ainda os chamados ‘liberais’ devastados por anos e anos de materialismo feroz e ganancioso que Joe Biden revelou-se fortemente não apenas como o candidato anti-Trump, mas também, e cada vez mais, como o anti-Reagan? O seu novo “New Deal” é baseado na consciência de que a sensibilidade das classes trabalhadoras e populares ao populismo irracional surge das profundas desigualdades criadas pelo neoliberalismo.

 

Os ‘35 anos a bazucar’ (título de Miguel Sousa Tavares) ilustraram perfeitamente e dramaticamente as teias e ‘polvos’ desenvolvidos por toda uma geração a que podemos chamar a geração do ‘Compromisso Portugal’ com políticos, gestores, empresários, banqueiros que nos levaram agora às encruzilhadas sucessivas e inefectivas da justiça e ao impasse de uma classe política cada vez mais desprestigiada.

 

As únicas forças verdadeiramente e antecipadamente vencedoras das próximas eleições autárquicas são as forças da cidadania activa e participativa. No entanto, estas forças, constituídas por grupos heterogéneos e flutuantes de cidadãos, unidos apenas por temas, mas com diferentes, variadas e pluralistas motivações e convicções, mantêm-se exteriores às definições de campos políticos.

 

Não nos espantemos, portanto, que nós, como votantes, sejamos também ‘órfãos políticos’ sem candidatos que nos representem, capazes de nos libertarem do ‘limbo’ a que fomos condenados

 

Daí os partidos políticos tentarem ‘agarrar’ e conduzir este autêntico potencial com promessas aliciantes aos ‘independentes’. Disso, já tivemos com fartura com Sá Fernandes e Helena Roseta, que viabilizaram constantemente e sistematicamente a gestões de Costa e de Medina.

 

Com os tais 35 anos criámos legiões de órfãos. Toda uma juventude licenciada mas exilada, numa gigantesca diáspora.

 

Não nos espantemos, portanto, que nós, como votantes, sejamos também ‘órfãos políticos’ sem candidatos que nos representem, capazes de nos libertarem do ‘limbo’ a que fomos condenados.

 

E isto numa Lisboa que até ao ciclo corona estava prisioneira de monoculturas destruidoras (turismo de massas, omnipresente alojamento local, crise da habitação, omnipotente imobiliário especulativo, monocultura exclusiva dos hotéis., etc..) e terá que enfrentar profundos, e até agora incertos, desafios futuros no período pós-corona.

 

Um é claro e sobrepõe-se a todos os outros: as alterações climáticas.

 

Sim, quando caoticamente a caixa de Pandora foi aberta, e tudo se escapou e diluiu num ápice, como neve derretida sobre o Sol, a única coisa que ficou foi a esperança.

 

 A minha esperança vai para uma cidadania cada vez mais activa, maduramente crítica e verdadeiramente independente.

 

Como já afirmei anteriormente: a cidadania exerce-se. A cidadania não vai a votos!

 

Historiador de Arquitectura


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