quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Joe Berardo transforma estação rodoviária em palácio sem ter licença de construção

 


Berardo teve 48,3 milhões de euros em benefícios fiscais só em três anos

Em apenas três anos, Joe Berardo teve 48,3 milhões de euros em benefícios fiscais. A maioria dos benefícios foram atribuídos à tabaqueira EMT, com sede na Madeira, da qual Berardo detém 48,8%.

 

João de Almeida Dias

Texto

18 mai 2019, 12:13 7

 LUSA

https://observador.pt/2019/05/18/berardo-teve-483-milhoes-de-euros-em-beneficios-fiscais-so-em-tres-anos/

 

Joe Berardo deve mais de 860 milhões de euros a três bancos, entre eles a Caixa Geral de Depósitos

 

O empresário Joe Berardo teve 48,3 milhões de euros em benefícios fiscais ao longo dos últimos três anos, escreve o semanário Expresso.

 

De acordo com informação publicada pela Autoridade Tributária, a maior parte dos benefícios fiscais foram atribuídos às Empresa Madeirense de Tabaco (EMT), da qual a Fundação José Berardo é dona de 48,8%. De acordo com o Expresso, a EMT teve benefícios na ordem dos 16 milhões em 2015, 19 milhões em 2016 e 13,1 milhões em 2017.

 

O Expresso explica ainda que, no caso de 2017, os 13,1 milhões de benefícios fiscais para a EMT surgem porque a Madeira tem uma taxa mais baixa de imposto sobre o tabaco e também por merecer uma redução do IRC por a empresa estar instalada na Zona Franca da Madeira.

 

Porém, também há outros negócios daquele empresário a ter acesso a esses benefícios, embora numa escala muito menor — tudo somado, em 91 mil euros. São elas a própria Fundação José Berardo (36 mil euros), Bacalhôa Vinhos de Portugal (42 mil euros) e Matiz (12 mil euros).

 

Joe Berardo voltou ao topo da agenda mediática na semana passada, após ter comparecido numa sessão da comissão de inquérito para a Caixa Geral de Depósitos (CGD). De acordo com aquilo que o Observador apurou, após consulta do processo colocado contra Joe Berardo, aquele empresário deve 265,9 milhões de euros ao banco público.

 

Porém, não é apenas à CGD que Joe Berardo deve dinheiro. Segundo apurou o Observador, se se somar os empréstimos que o empresário fez junto do BCP e do então BES/Novo Banco, Joe Berardo pediu emprestado um total de 864 milhões de euros. Entre 2012 e 2019, o empresário devolveu apenas 2,3 milhões de euros ao BCP e ao Novo Banco — isto é, 0,2% do capital em dívida.

 





ARRÁBIDA

Joe Berardo transforma estação rodoviária em palácio sem ter licença de construção

 

Edifício da Bacalhôa Vinhos fica no Parque Natural da Arrábida e as obras, que decorrem há ano e meio, não têm autorização do ICNF, que já levantou um auto de contra-ordenação.

 

Francisco Alves Rito

Francisco Alves Rito 13 de Outubro de 2020, 20:24

https://www.publico.pt/2020/10/13/local/noticia/joe-berardo-transforma-estacao-rodoviaria-palacio-licenca-construcao-1935058

 

A Bacalhôa Vinhos de Portugal SA, empresa do empresário madeirense Joe Berardo, está a transformar um edifício numa espécie de palácio, situado na Reserva do Parque Natural da Arrábida, sem ter licença para as obras, que decorrem há cerca de um ano e meio.

 

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) confirmou ao PÚBLICO que a intervenção no edifício, que “integra a área classificada como Protecção Complementar tipo II” estando sujeita ao cumprimento do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida (POPNA)”, não está autorizada.

 

“O projecto de alterações em referência, não reúne as condições para ser autorizado pelo ICNF, uma vez que não tem enquadramento nas normas do plano de ordenamento em vigor”, informa o ICNF, explicando que estão em causa os artigos 20 e 21. O primeiro define a zona como “espaço de médio valor natural e paisagístico”, e o segundo, determina que “apenas se permite” obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração e conservação, quando associadas à agricultura, pastorícia ou turismo da natureza.

 

E mesmos nestes casos, além de limitadas quanto à cércea e área de construção, os processos estão “sujeitos a autorização da comissão directiva do Parque Natural da Arrábida (PNA) e “dependem de parecer vinculativo do ICNF”.

 

Apesar deste regime apertado, as obras arrancaram sem as devidas autorizações, pelo que “a equipa de Vigilantes da Natureza levantou um auto, em Novembro de 2019, pelo início das obras sem o necessário parecer do ICNF”, refere este instituto nas respostas, por escrito, enviadas às perguntas do PÚBLICO.

 

O ICNF esclarece ainda que o pedido de parecer feito entretanto pela empresa foi entregue já depois do auto levantado e que mereceu resposta negativa. “O parecer foi solicitado em Janeiro de 2020, tendo o ICNF emitido, em Fevereiro de 2020, parecer desfavorável ao projecto de alterações do edifício existente, por não dar cumprimento às normas expressas no artigo 21º.”, informa.

 

Os trabalhos de remodelação das antigas instalações da Transportadora Setubalense - Belos, em Vila Fresca de Azeitão, arrancaram em 2019, mas o processo de licenciamento municipal, que deveria ser prévio, também ainda não está concluído. Confrontada recentemente, numa reunião da Assembleia Municipal de Setúbal, com a falta de licença destas obras, a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, afirmou que o caso está “em processo de legalização”.

 

As obras em causa não estão legalmente dispensadas da licença de construção porque implicam relevantes alterações urbanísticas, entre as quais a remodelação da fachada do edifício. Esta parte das obras, na fachada principal, está terminada, decorrendo, neste momento, acabamentos interiores e o arranjo do espaço exterior.

 

O PÚBLICO tentou ouvir o empresário Joe Berardo e questionou a Câmara de Setúbal, assim como a empresa Bacalhôa Vinhos mas, até ao momento, não obteve respostas.

 

O edifício em causa fica em frente, na estrada Nacional 10, ao Palácio da Bacalhôa, também propriedade de Joe Berardo, onde foi inaugurado um museu, em Abril de 2017, numa cerimónia que contou com a presença do comendador.

 

A quinta do século XVI, onde está instalado o museu, tem como construção principal o palácio, considerado a primeira manifestação da arquitectura renascentista em Portugal. O museu apresenta a história, arquitectura e decoração do Palácio da Bacalhôa, como sendo a primeira grande mostra sobre o conhecimento universal da importância deste monumento no panorama artístico nacional, e guarda algumas obras de arte pertencentes à colecção privada do comendador Joe Berardo.

 

Já não é a primeira vez que Berardo faz obras ilegais. Em 2007, construiu uma casa de banho de luxo no terraço do prédio da Avenida Infante Santo, em Lisboa, virada para o Palácio das Necessidades. A obra foi considerada ilegal e o tribunal ordenou que a casa de banho fosse demolida. Mas a ordem continua por acatar.

 

O edifício foi adquirido pela empresa de Joe Berardo, à Transportadora Setubalense – Belos, do Grupo Barraqueiro, de Humberto Pedrosa, no início de 2019, pelo valor de 2,125 milhões de euros, confirmou ao PÚBLICO fonte conhecedora do processo. A mesma fonte refere que o preço foi pago “descontando outros encargos e impostos como o IMT”.

 

Os cerca de 30 mil metros quadrados destinam-se, ao que o PÚBLICO apurou, à criação de um centro interpretativo do vinho e a um novo grande espaço de cultura, denominado Berardo Bacalhôa Collection (BBC). Ainda de acordo com a mesma fonte, as novas instalações poderão ainda ser o destino da Colecção Berardo, se o actual acordo com Estado, que termina em 2022, não for renovado.

 

A antiga estação de camionagem é muito conhecida pelos setubalenses uma vez que era o local de paragem das carreiras que durante muitas décadas, no final do século passado e ainda no início do actual, faziam a ligação entre Setúbal e Lisboa.

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