segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Aos 190 anos, a Confeitaria Nacional é monumento de interesse público

 




LISBOA

Aos 190 anos, a Confeitaria Nacional é monumento de interesse público

 

Centenária confeitaria da baixa lisboeta recebeu classificação, assim como o Liceu Maria Amália e o complexo da Companhia União Fabril (CUF), no Barreiro.

 

Cristiana Faria Moreira

Cristiana Faria Moreira 19 de Outubro de 2020, 13:22

https://www.publico.pt/2020/10/19/local/noticia/190-anos-confeitaria-nacional-monumento-interesse-publico-1935798

 

É um reconhecimento para o estabelecimento, mas também o é para o comércio tradicional e histórico de Lisboa, que vive, por esta altura, dias difíceis: a quase bicentenária Confeitaria Nacional é já um monumento de interesse público.

 

​Segundo o despacho da secretária de Estado adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira, publicado em Diário da República esta segunda-feira, a classificação abrange o “piso térreo e primeiro andar, incluindo o património móvel integrado”, entre a Praça da Figueira, 18-A a D e na Rua dos Correeiros, 238.

 

A casa abriu portas em 1829, no rescaldo da Guerra Civil entre Liberais e Absolutistas, pela mão de Balthazar Rodrigues Castanheiro, que conseguiu “rapidamente, transformar o espaço - único no seu género - num dos lugares de eleição das elites lisboetas. Manteve-se sempre na mesma família e é ainda hoje reconhecida pelo famoso bolo-rei, uma receita que um confeiteiro terá trazido de Paris.

 

Já em 1920, a então quase centenária Confeitaria Nacional, inaugurou uma sala de chá ao lado da loja, o que permitiu estender a actividade da confeitaria à pastelaria. “Apesar de terem sido realizadas remodelações posteriores, o património integrado dessa época permaneceu no estabelecimento tendo sido muito valorizado pela intervenção realizada entre 1999 e 2002, quando foi iniciada a actividade de restauração no primeiro andar. Encontram-se também preservados o mobiliário e as pinturas que decoram o tecto da loja desde o século XIX”, lê-se no despacho de classificação.

 

O procedimento de classificação foi aberto em 2017. Para esta classificação pesou o facto de este centenário estabelecimento ser “testemunho notável de vivências ou factos históricos”, mas também o seu “valor estético, técnico ou material intrínseco do bem e a concepção arquitectónica e urbanística”.

 

Em Novembro, a dias de celebrar o 190.º aniversário, correram pela cidade rumores de um possível encerramento. Que foi prontamente desmentido pelos seus responsáveis. “Vamos ficar no mesmo sítio, esperamos que por muitos anos”, garantiu então ao PÚBLICO Fernanda Vicente, uma responsável da empresa.

 

CUF e Liceu Maria Amália também distinguidos

O antigo Liceu Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho foi também esta segunda-feira classificado como monumento de interesse público. Instituído por decreto régio de 1906, foi o primeiro liceu feminino do país. Foi o arquitecto Miguel Ventura Terra o responsável por projectar o edifício da Rua de Rodrigo da Fonseca, 115, "com algumas alterações introduzidas por António do Couto de Abreu”, tendo clara influência dos modelos franceses dos Lycée.

 

“Para além de manter a sua vocação educativa, o imóvel conserva ainda quase intacto o programa arquitectónico original, bem como um importante acervo de mobiliário, arquivos documentais e fotográficos, a colecção de instrumentos científicos dos laboratórios de Física e Química, e os espaços dedicados a Geografia e História, onde se conserva diversa cartografia, e a Biologia-Geologia, incluindo o depósito de Geologia e Mineralogia”, lê-se no despacho de classificação.

 

Classificado como conjunto de interesse público está também o conjunto de imóveis ligados à actividade industrial e à obra social da Companhia União Fabril (CUF), no Barreiro, um dos maiores conjuntos industriais portugueses, que trabalhou quase um século. Instalada na ínsula do Barreiro desde 1907, a CUF “representa para Portugal o pioneirismo e gigantismo no seio das indústrias químicas nacionais, tendo criado sinergias para o desenvolvimento de fábricas congéneres.”.

 

Foi ali localizada para aproveitar a proximidade ao rio Tejo e à estação de caminho-de-ferro do Sul, cuja ligação era fundamental para receber a maioria das matérias-primas provenientes das minas de pirite do Alentejo. “A CUF revolucionou a indústria em Portugal, na terceira geração da industrialização (indústria química), e representa para Portugal um exemplo paradigmático de industrialização, desenvolvendo e construindo uma verdadeira cidade industrial para acolher os milhares de trabalhadores que entretanto iam chegando ao Barreiro”, refere o documento.

 

“O complexo da CUF mantém ainda hoje arquitecturas autênticas e de relevante valor histórico e cultural e social, testemunhando diversas fases de produção e de laboração de um dos maiores complexos industriais europeus e dos mais significativos enquanto património industrial português e inclui, ainda, toda uma série de equipamentos de natureza social.”

 

A classificação como conjunto de interesse público abrange a Casa-Museu Alfredo da Silva; antigo Posto da GNR; Edifícios da Primeira Geração Stinville (1907-1917); Edifícios da Antiga Central a Vapor; Armazém de Descarga e Moagem de Pirites; Bairro Operário de Santa Bárbara; antiga sede do Grupo Desportivo da CUF; Mausoléu de Alfredo da Silva; Silo de Sulfato de Amónio (1952); Silo de Enxofre (1960); e Museu Industrial e Centro de Documentação (antiga Central Diesel, 1928-1937).

 

Com esta classificação, qualquer intervenção que seja feita nos imóveis ficará sujeita às restrições previstas na lei e depende da aprovação prévia da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC).

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