quarta-feira, 4 de março de 2015

Vanessa, António costa e as diferenças/melhorias do ano da Cabra


Vanessa, António costa e as diferenças/melhorias do ano da Cabra
Por Ana Sá Lopes
publicado em 3 Mar 2015 / in (jornal) i online

Portugal está diferente? Portugal está melhor? Portugal está diferente para pior ou para melhor? O que diz Costa, o homem que não diz quase nada? Costa pensa aquilo ou mentiu aos chineses? É válido um candidato a primeiro-ministro mentir para defender o governo que combate? A cabeça da Vanessa está numa grande confusão

Está tudo maluco por aí??????!!!!!

Mal abri o Facebook, na quinta-feira à tarde, tinha a Vanessa a meter-se comigo no chat. Coisas más da globalização: em vez de se preocupar com a Grécia e com Atenas, onde está a curtir o Syriza e um seu militante, a Vanessa queria saber coisas sobre António Costa e o ano novo chinês.

– É o ano da Cabra, respondi eu.

– Mas as previsões para o ano da Cabra eram assim tão más?, perguntou-me a Vanessa.

– Não, no início até eram muitíssimo boas. Antes de Costa chegar a secretário-geral, nunca tinha havido previsões tão boas para o PS. Era suposto que no ano da Cabra António Costa arrasasse no confronto com o governo e devolvesse a esperança e o fulgor ao eleitorado socialista e a todos os que estão esgotados com as políticas do governo. 

– Fosga-se, mas como pôde acontecer isto?, perguntou a Vanessa, genuinamente espantada.

– As coisas acontecem. E são sempre piores do que melhores. A vida é muito difícil. Vivemos tempos duros. Hard times, hard times. (a minha natural capacidade de debitar sentenças resignadas ainda consegue surpreender-me).

– Mas tu não andavas a dizer que com o António Costa agora é que era?????

Agora estava a sobrar para mim.

– Oh pá, é verdade que sempre achei que António Costa poderia ser um óptimo líder do PS e até se calhar conseguia a maioria absoluta.

– A culpa disto é de gente como tu.

Se calhar era. Deveria eu fazer um mea culpa por ter achado que Costa seria melhor líder do PS do que António José Seguro? Por um dia ter achado que com Costa o PS ia ter um discurso mais à esquerda? A quem devia eu pedir desculpa? Aos leitores? Aos leitores socialistas? À Vanessa e aos meus outros amigos que andei a maçar com este assunto? Bolas, mas no fundo a culpa não era minha. Não foi por mal. Juro que nunca me tinha passado pela cabeça que o Costa ia dar nisto.

– Desculpa, Vanessa. Precipitei-me. Eu também não estava à espera. Ele dantes era bom. Há muitos anos era bom. As pessoas também mudam, envelhecem, engordam, como é que podemos prever tudo?

– O que tu és é uma grande naba!!!!!

– Oh, vai syrizar e não me chateies.

– Mas eu ainda não percebi se o Costa mentiu aos chineses ou se pensa mesmo aquilo – insistiu a Vanessa que aparentemente não tinha mais nada que fazer em Atenas do que me chatear a cabeça por causa do Costa.

– Deve ser fifty-fifty, disse eu. Ele diz agora que mentiu aos chineses, porque eram chineses, porque se fossem portugueses, teria dito outra coisa, que estávamos pior e tal. Mas naquele contexto mentir aos chineses era importante para “defender o país” e o “interesse nacional” e mais não sei o quê.

– Mas não era o Seguro que era um nabo? E não era por causa dele ser nabo que o Costa que dizia “se pensarmos como a direita pensa acabamos a governar como a direita governou”? Então agora que o Costa pensa como a direita quer dizer que vai acabar a governar como a direita?

A Vanessa não se calava. 


– Vai ter com o Syriza e desampara-me a loja.

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