Passos continua sem esclarecer
incumprimentos fiscais
JOSÉ ANTÓNIO
CEREJO 04/03/2015 - PÚBLICO
O primeiro-ministro já admitiu "atrasos" na entrega de
declarações de impostos, mas há outras perguntas por responder.
Pedro Passos
Coelho ainda não respondeu às seis perguntas que o PÚBLICO lhe enviou na
segunda e na terça-feira acerca de várias situações de incumprimento que terão
marcado as suas relações com o fisco entre 2003 e 2007.
Nas declarações
que fez na terça-feira no Porto, o primeiro-ministro referiu-se detalhadamente
à primeira questão suscitada pelo jornal, mas sem o identificar e sem responder
concretamente à pergunta. No entanto, assumiu claramente a existência de
problemas no seu cadastro fiscal, situando-os apenas na esfera do atraso na
entrega das declarações de impostos.
Em causa, naquela
pergunta, está apenas a confirmação, ou o desmentido, de que naquele período de
tempo, que coincide em parte com os anos em que não pagou as contribuições
devidas à Segurança Social, foi alvo de cinco processos de execução fiscal. Passos
nada respondeu até agora — como também não respondeu ao Expresso online, que
nesta quarta-feira o questionou sobre a mesma matéria —, mas a afirmação
pública de que “muitas vezes” fez entregas atrasadas ao Estado, que no contexto
do discurso só podem ser entendidas como declarações de impostos, parece
corresponder ao reconhecimento de que alguma coisa não está bem no seu
historial fiscal.
A polémica sobre
este caso tem uma origem em tudo semelhante à controvérsia desencadeada em
Março de 2007 a
propósito da licenciatura de José Sócrates. Tudo começou então com a divulgação
no blogue Do Portugal Profundo, muito tempo antes, de numerosos dados sobre a
carreira académica do ex-primeiro-ministro agora detido. Até o PÚBLICO ter
iniciado a sua própria investigação sobre o caso e ter começado a divulgar os
seus resultados, o assunto não existia na esfera mediática.
Desta vez, os
dados relativos a eventuais infracções fiscais cometidas por Passos Coelho
foram reveladas, já em Maio de 2011, pelo blogue O Verdadeiro Lápis Azul. Lá se
encontram desde então, sem nada mais ter sido acrescentado e sem que o assunto
tenha ganho relevo público, diversos dados sobre a carreira fiscal do então
candidato a primeiro-ministro. Lá se encontram também diversas informações
sobre multas e coimas aplicadas pelas autoridades ambientais e pelos tribunais
(alguma delas noticiadas na altura em que ocorreram) a várias empresa do grupo
Fomentinvest das quais Passos Coelho tinha sido administrador desde 2004.
No que respeita
às relações do agora primeiro-ministro com a administração fiscal, o blogue
identifica, com o número, a data de instauração e de conclusão, e com o montante
que envolviam, cinco processos de execução fiscal de que Passos Coelho teria
sido alvo. O primeiro desses processos data de Maio de 2003, referindo-se
presumivelmente ao ano fiscal de 2002, e respeita a um montante de apenas 101
euros.
Fontes das Finanças
ouvidas pelo PÚBLICO exprimem grandes dúvidas sobre a possibilidade de esse
processo, tal como um outro, iniciado em Outubro de 2007 e de idêntico valor,
se relacionar com atrasos na entrega das declarações de IRS. As coimas então
aplicadas por essa infracção, garantem, eram muito inferiores e normalmente os
processos não seguiam para execução fiscal.
Já os processo
referidos como tendo tido início em Fevereiro de 2004, Julho de 2004 e Junho de
2006, e referentes, respectivamente, a valores de 2419, 2464 e 781 euros, as
mesmas fontes excluem a hipótese de se tratar de atrasos na entrega das
declarações. O mais provável, adiantam, é que se trate de impostos liquidados
pelas Finanças, e não pagos em devido tempo pelo contribuinte, que foram para
execução fiscal, correspondendo os valores aos impostos em falta, mais as
custas do processo e os juros de mora.
Todos os processo
referidos no blogue terão sido resolvidos, não se sabe se com penhoras ou com
pagamentos, até Novembro de 2007.
O PÚBLICO enviou
ao gabinete de Passos Coelho, logo na segunda-feira, todos os dados relativos a
cada um destes processos, procurando saber se o primeiro-ministro confirma ou
desmente que eles lhe dizem respeito. Conforme foi explicado por escrito, os
dados eram conhecidos pelo PÚBLICO há algum tempo, mas até agora não lhe tinha
sido atribuída credibilidade suficiente para questionar o primeiro-ministro. Até
que ele próprio reconheceu que tinha dívidas à Segurança Social.

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