Portugal está entre os dez países que atraem mais
milionários. Rússia é o que mais perde
Joana Nabais
Ferreira
19 Junho 2022
Na liderança estão os Emirados Árabes Unidos, uma espécie
de íman de riqueza. Portugal ocupa o sexto lugar da tabela. A Rússia, por outro
lado, é o país que mais milionários deixa escapar neste ano.
Ao longo deste
ano, prevê-se que cerca de 88.000 milionários se mudem, de malas e bagagens,
para um novo país. Portugal deverá receber 1.300 novos milionários, o que faz
com que as terras lusas integrem o Top 10 dos países em que mais milionários
atravessam a sua fronteira, figurando mesmo no sexto lugar do ranking. Na
liderança estão os Emirados Árabes Unidos, que são uma espécie de íman de
riqueza, prevendo-se que cheguem a esse território 4.000 milionários até ao
final de 2022. Mas de que países saem estas pessoas? A maioria da Rússia.
Espera-se que, neste ano, 15.000 milionários abandonem o país. Entre os fluxos
migratórios, é possível concluir também que o Reino Unido e os Estados Unidos
estão a perder o tradicional brilho, revela o “Henley Global Citizens Report”,
realizado pela financeira Henley & Partners.
Portugal tem mais
de 136 mil milionários
“A previsão para
2022 reflete um ambiente extremamente volátil em todo o mundo. No final do ano,
espera-se que 88.000 milionários se tenham deslocado para novos países, menos
22.000 do que em 2019, quando 110.000 se mudaram”, começa por dizer Juerg
Steffen, CEO da Henley & Partners.
E antecipa o
próximo ano: “Preveem-se os maiores fluxos migratórios milionários de que há
registo (125.000), com os investidores influentes e as suas famílias a preparem-se
seriamente para o novo mundo pós-Covid, cuja reorganização da ordem global
ainda está por revelar e a ameaça sempre presente das alterações climáticas
como pano de fundo”, detalha, citado pela Visual Capitalist (acesso livre,
conteúdo em inglês).
Os indivíduos mais ricos são extremamente móveis, e os
seus movimentos podem fornecer um sinal de alerta precoce para as tendências
futuras dos países. Os países que atraem indivíduos e famílias ricas tendem a
ser robustos, com baixas taxas de criminalidade, taxas de impostos competitivas
e oportunidades de negócio atrativas.
Os Emirados
Árabes Unidos — que têm vindo a tornar-se um foco interessante entre os
investidores mais ricos — ocupam o primeiro lugar no pódio no que toca à
chegada de milionários. A chegada prevista de 4.000 milionários neste ano
representa um boom de 208% em relação ao fluxo registado em 2019 (1.300).
“Este fluxo de
milionários deve-se, em parte, às políticas de imigração adaptáveis e recetivas
do país, especialmente concebidas para atrair riqueza privada e talento
internacional”, explica a consultora com sede em Londres.
O pódio fica
completo com a Austrália e a Singapura, com um ganho expectável de 3.500 e
2.800 milionários, respetivamente. Israel (2.500), Suíça (2.200), Estados
Unidos da América (1.500), Portugal (1.300), Grécia (1.200), Canadá (1.000) e
Nova Zelândia (800) compõem o Top 10.
“Os indivíduos
mais ricos são extremamente móveis, e os seus movimentos podem fornecer um
sinal de alerta precoce para as tendências futuras dos países. Os países que
atraem indivíduos e famílias ricas tendem a ser robustos, com baixas taxas de
criminalidade, taxas de impostos competitivas e oportunidades de negócio
atrativas”, explica Andrew Amoils, head of research da New World Wealth.
Apesar de não
figurarem nos dez primeiros lugares da lista, a Henley & Partners salienta,
ainda, que se espera também que um grande número de milionários se desloque
para Malta, Maurícias e Mónaco.
De onde veem
estes milionários?
Do lado contrário
do mapa de fluxos migratórios, a Rússia é o país que sofreu a maior emigração
de milionários nos últimos seis meses, com os investidores a escaparem aos
impactos das sanções ocidentais. E carimbam o passaporte para países como os
Emirados Árabes Unidos e Israel, detalha o jornalista Misha Glenny. Prevê-se
que 15.000 pessoas cuja fortuna está avaliada em, pelo menos, um milhão de
dólares abandonem o país até ao final de 2022, o que representa 15% dos
milionários na Rússia e mais 9.500 pessoas do que em 2019, ainda antes da
pandemia.
Mas a tendência
não é totalmente nova. “Um padrão subjacente já era detetável antes da invasão
da Ucrânia. Muito antes da imposição de sanções ao sistema bancário russo,
houve um tsunami de capital que deixou o país, em grande parte provocado pelo
estilo de Governo do presidente Vladimir Putin e pelas suas exigências de
lealdade feitas aos russos ricos e de classe média.”
A invasão da Rússia está a provocar um pico abrupto nas
saídas de HNWI [high-net-worth individual] da Ucrânia, que se prevê sofrer a
maior perda líquida na história do país: 2.800 milionários (42% da sua
população HNWI), mais 2.400 pessoas do que em 2019. (…) Há uma infinidade de
razões pelas quais os ricos se deslocam. Escapar ao conflito é uma delas, razão
pela qual não é surpresa ver países como a Rússia e a Ucrânia como maiores
números de emigração até ao final de 2022.
A Ucrânia, por
sua vez, também está a ser profundamente penalizada. Estima-se que, este ano,
2.800 milionários saiam do país, o que significa 42% da sua população com um
milhão de dólares ou mais de riqueza.
“A invasão da
Rússia está a provocar um pico abrupto nas saídas de HNWI [high-net-worth
individual] da Ucrânia, que se prevê sofrer a maior perda líquida na história
do país: 2.800 milionários (42% da sua população HNWI), mais 2.400 pessoas do
que em 2019″, pode ler-se. “Há uma infinidade de razões pelas quais os ricos se
deslocam. Escapar ao conflito é uma delas, razão pela qual não é surpresa ver
países como a Rússia e a Ucrânia como maiores números de emigração até ao final
de 2022.”
Três países
separam, no entanto, a Rússia e a Ucrânia. Um deles é a China, de onde deverão
sair 10.000 milionários este ano. Para Andrew Amoils, esta perda populacional
pode revelar-se mais prejudicial do que em anos anteriores, uma vez que o
crescimento da riqueza geral na China diminuiu recentemente.
Índia e Hong Kong
ocupam o terceiro e quarto lugares dos países que mais milionários deixam
escapar, com previsões de 8.000 e 3.000, respetivamente. Brasil (2.500), Reino
Unido (1.500), México (800), Arábia Saudita (600) e Indonésia (600) seguem-se
no ranking.
Reino Unido e EUA
perdem o brilho
Os destinos que,
tradicionalmente, atraem os investidores mais ricos do mundo estão, agora, a
perder terreno. O Reino Unido, antes considerado o centro financeiro mundial,
continua a assistir a uma perda constante de milionários, com a saída de 1.500
prevista para este ano. Esta tendência, explica a consultora, começou há cinco
anos, alavancada pelo brexit e pelo aumento dos impostos. Cerca de 12.000
milionários já abandonaram o Reino Unido desde 2017.
O brilho de outro
gigante financeiro, os Estados Unidos da América, também está a diminuir
rapidamente. Os EUA são, hoje em dia, notavelmente menos populares entre os
milionários emigrantes do que eram no mundo pré-Covid, “talvez devido, em
parte, à ameaça de impostos mais elevados”.
Pandemia gerou um
multimilionário a cada 30 horas
Apesar de o país
ainda atrair mais milionários do que aqueles que perde para a emigração, a
queda é significativa: menos 86% comparativamente com os níveis de 2019, altura
em que chegaram 10.800 milionários aos Estados Unidos.
“Em novembro, é
provável que as eleições intercalares devolvam uma Casa Republicana e
possivelmente também o Senado. Com as guerras culturais entre democratas e
republicanos a aumentar uma vez mais com a decisão vazada do Supremo Tribunal
para anular a decisão ‘Roe vs. Wade’ sobre o aborto, alguns receiam que
estejamos a entrar noutro período de instabilidade dramática, como o que
caracterizou os anos Trump. Em consequência disso, alguns investidores de
elevada reputação irão, sem dúvida, pensar duas vezes antes de comprometerem a
sua riqueza nas Américas”, comenta Misha Glenny.

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