Crédito à habitação volta a aumentar e juros sobem para
2,23%
Em Setembro, montante de novos empréstimos às famílias
para habitação e consumo superou os dois mil milhões de euros. Juros dos
depósitos voltaram a cair.
Rosa Soares
3 de Novembro de
2022, 12:42
As famílias
pediram e os bancos concederam mais crédito em Setembro, apesar da subida das
taxas de juro no crédito. Em contraste, a rentabilidade dos depósitos até 12
meses voltou a cair, para 0,05%, depois da ligeiríssima subida em Julho, para
0,09%.
De acordo com os
dados divulgados esta quinta-feira pelo Banco de Portugal (BdP), as
instituições de crédito concederam 2006 milhões de euros de novos empréstimos
aos particulares, mais 136 milhões de euros do que em Agosto, um crescimento
registado nas finalidades para compra de casa e crédito pessoal. Nos dois meses
anteriores, o volume de crédito tinha ficado abaixo deste patamar.
Para compra de
casa, os bancos emprestaram 1338 milhões de euros, mais 121 milhões de euros
que em Agosto, e a taxas mais altas. A taxa de juro média dos novos empréstimos
à habitação subiu para 2,23%, acima dos 2,01% de Agosto, correspondendo a um
máximo desde Outubro de 2015.
“Esta evolução
está em linha com a subida das taxas médias da Euribor em Agosto”, refere o
BdP, tendência que se agravou, de forma significativa, em Setembro e Outubro,
mas que apenas será visível nos empréstimos mais recentes.
No crédito à
habitação concedido em Setembro verifica-se o domínio quase total das taxas
variáveis, que estão em forte subida. Assim, 87% foi feito com a Euribor a seis
meses (42%) ou a 12 meses (45%), com algum crédito concedido ainda a três meses
(5%). Apenas 8% foi concedido a outras taxas, ou seja, a fixas ou a mistas.
O BdP destaca que
no stock de empréstimos à habitação existentes em Portugal, o indexante mais
comum é a Euribor a 12 meses, destronando o prazo a seis meses, historicamente
o mais comum.
Como o PÚBLICO já
noticiou, os bancos estão novamente a voltar-se para a Euribor a seis meses,
por estar mais baixa que a de 12 meses, mas a diferença está a esbater-se, uma
vez que este prazo tem sido dos que mais tem subido no último mês, e tem
revisões periódicas mais rápidas, ou seja, a cada seis meses.
Particulares já são “mais de 70% do valor total das
insolvências”
Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Protecção
Financeira da Deco, conta que já começa a haver mais casos de pedidos de
insolvência de particulares.
Sónia Sapage,
Susana Madureira Martins (Renascença) e Rui Gaudêncio (Fotos)
3 de Novembro de
2022, 7:00
Natália Nunes
coordena o Gabinete de Protecção Financeira da Deco
A Deco prevê que
2023 seja ainda mais difícil, tendo em conta que começam a surgir pedidos de
insolvência de particulares. A actual subida de pedidos de insolvência ainda
não é preocupante, porque as famílias ainda não esgotaram todas as soluções
antes de pedir ajuda à associação. O pior é o que aí vem, admite Natália Nunes.
O que a preocupa
mais: o aumento das taxas de juro, o preço da energia, dos combustíveis, a
inflação?
Tudo, porque
essas coisas acabam por estar todas ligadas. A inflação é muito preocupante
para as famílias de baixos rendimentos, porque nós sabemos que é nos produtos
de alimentação e na factura de energia que ela se verifica mais. E isso tem um
grande peso nos orçamentos das famílias com menores rendimentos. Portanto,
mesmo que a inflação venha a reduzir-se, vamos continuar a ter, nomeadamente
entre aquelas famílias que recebem o salário mínimo ou até inferior ao salário
mínimo, grandes, grandes dificuldades no próximo ano. Ligada à inflação temos a
subida da Euribor. Também sabemos que ela está a subir muito para controlar a
inflação; portanto, acaba por estar tudo relacionado. Claro que as duas
questões, a inflação e a subida da Euribor, são dois aspectos que podem gerar
grandes rupturas em termos financeiros por parte das famílias.
O
primeiro-ministro, no debate da generalidade da proposta de Orçamento do
Estado, dizia que a pobreza em Portugal que não está a aumentar. É essa a
informação que chega à Deco? Há números sobre isso?
Nós não temos
esses números, até porque acabamos por não trabalhar a questão da pobreza, mas
lidamos com muitas famílias nessa situação. Aquilo que eu posso dizer é que
este ano demonstrou-nos, pelo menos a nós, na Deco, que as famílias com menores
rendimentos eram aquelas que estavam a ser mais afectadas, mas entretanto
entraram [para esse grupo] muitas famílias que até há uns tempos tinham
rendimentos que estavam na classe média, porque foram confrontadas,
nomeadamente no período da pandemia, com situações como o lay-off e não
conseguiram recuperar, tendo neste momento rendimentos muito inferiores àqueles
que tinham há dois, três anos.
O que é que
acontece às famílias que, no limite, não conseguem pagar os seus créditos? Há
situações conhecidas pela Deco de pessoas que, por exemplo, passaram para uma
situação de sem abrigo?
São situações
muito extremas. Ainda não estamos nesse ponto. Entre 2008 e 2012, vimos essas
situações de famílias que tiveram de abandonar as casas. E foi dramático. A
nossa esperança é que não se volte a passar aquilo que surgiu nessa altura. De
qualquer forma, temos já famílias com situações muito complicadas, porque têm
baixos rendimentos e porque as prestações estão a subir e, portanto, estão na
iminência de virem a ser confrontadas com essas situações. Mas antes de serem
confrontadas com isso, e eu pensava que era essa a pergunta que iria fazer,
elas são confrontadas com acções de execução, com a penhora dos seus bens. Ou,
então, até as próprias famílias tomam a decisão de avançar para o processo de
insolvência.
Já há casos
desses?
Eles começam
novamente a aumentar. Se nós fomos ver os dados do Ministério da Justiça, vemos
que as insolvências dos particulares representam mais de 70% do valor total.
É um número que
subiu?
É um número que
subiu, sim, embora eu não tenha presentes os valores em concreto. Mas não são
estas subidas que nos preocupam, são aquelas que vêm aí, até porque as famílias
que estão agora a ter dificuldades só começam a tentar encontrar mecanismos
para sair delas daqui a uns tempos. Não é quando começam a ter as primeiras
dificuldades que as famílias vão a tribunal pedir a sua declaração de
insolvência. Muitas vezes, só depois de esgotarem todas as soluções e de
entrarem em situação de incumprimento é que vêm pedir ajuda.
tp.ocilbup@egapas.ainos

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