sexta-feira, 25 de julho de 2025

RECORDANDO 2 de Setembro de 2022: Comunidade Israelita do Porto garante que Governo acelerou processo de naturalização de Abramovich

 



COMENTÁRIO de LEITOR do PÚBLICO:

L. Mauger EXPERIENTE

“Em vez de deixar a poeira assentar, a CIP vai com a queixa chamar à atenção das autoridades europeias para esta porta de entrada na UE, escancarada para os ricaços espertalhões usarem. Pode ser que lhes saia o tiro pela culatra e a UE mande anular os certificados de ascendência com valor probatório mais do que duvidoso, as naturalizações neles baseadas, e ainda a correspondente parte da lei da nacionalidade. A melhor prova que esta naturalização é uma negociata para os serviços que servem de certificadores e para os outros intermediários e não tem qualquer mais valia para Portugal são os milhares de processos a chegarem diariamente às conservatóris só porque vai entrar em vigor um requesito de ligação ao país. Quem quer viver e fazer negócios ou investir em Portugal não precisa de adquirir a nacionalidade portuguesa.”

 

NVESTIGAÇÃO

Comunidade Israelita do Porto garante que Governo acelerou processo de naturalização de Abramovich

 

Gabinete de António Costa desmente ter sido informado acerca da nacionalidade do oligarca, como diz a Comunidade Israelita do Porto numa queixa à Procuradoria Europeia sobre uma enorme conspiração anti-semita em Portugal. Congresso Internacional Judaico considera acusações “espúrias”.

 

Paulo Curado

2 de Setembro de 2022, 6:16

https://www.publico.pt/2022/09/02/mundo/investigacao/comunidade-israelita-porto-garante-governo-acelerou-processo-naturalizacao-abramovich-2019139

 

António Costa diz que só soube do caso Abramovich pela investigação do PÚBLICO

 

O gabinete do primeiro-ministro, António Costa, e os anteriores ministros da Justiça, Francisca Van Dunem, e da Economia, Pedro Siza Vieira, negam qualquer envolvimento ou interferência no processo de naturalização de Roman Abramovich, ao abrigo da lei dos sefarditas. Numa longa queixa enviada esta semana à Procuradoria Europeia, a Comunidade Israelita do Porto (CIP) diz-se vítima da “maior conspiração anti-semita do mundo” e revela que o anterior Executivo “acelerou o pedido” do oligarca russo, por considerá-lo “um caso de interesse nacional.”

 

Uma informação desmentida esta quinta-feira ao PÚBLICO pelo gabinete do primeiro-ministro. “Não fomos informados sobre o processo de naturalização de Roman Abramovich e soubemos da sua conclusão quando foi revelada pela comunicação social [em Dezembro de 2021]”, referiu a assessoria de António Costa, que se encontra em visita oficial a Moçambique.

 

Um desmentido que contraria a versão da CIP. “Em Setembro de 2020, a comunidade informou o ministro da Economia [Pedro Siza Vieira] e o presidente da Câmara do Porto [Rui Moreira] sobre este caso; em Outubro, informou o Ministério da Justiça [liderado na altura por Francisca Van Dunem] e o gabinete do primeiro-ministro”, revela a queixa da CIP à Procuradoria Europeia.

 

Ainda de acordo com a CIP, citando um porta-voz de Abramovich, o multimilionário tinha “planos para fazer investimentos financeiros e fornecer doações a instituições de caridade, para preservar o património judeu e apoiar a sociedade em geral em Portugal”. Algo que acabou por não acontecer, face a “tantas notícias maliciosas” publicadas em Portugal: “[Abramovich] cancelou os seus planos e não gastou um único cêntimo em Portugal.”

 

Contactados pelo PÚBLICO também esta terça-feira, os ex-ministros Francisca Van Dunem e Pedro Siza Vieira negaram também terem tido conhecimento ou feito qualquer diligência para apressar o processo do oligarca russo, alvo de sanções da União Europeia, Estado Unidos e Reino Unido na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de Fevereiro, devido aos laços que mantém com o Presidente russo Vladimir Putin. “Soube da nacionalidade de Abramovich pela comunicação social”, referiu Francisca Van Dunem, garantindo não ter tido conhecimento antecipado deste ou de outros processos envolvendo descendentes de sefarditas.

 

 Esta revelação faz parte da queixa da CIP à Procuradoria Europeia, onde denuncia uma enorme conspiração anti-semita em Portugal que pretenderá destruir a entidade. “Esta queixa expôs indiscutivelmente a maior conspiração anti-semita do mundo”, garante o organismo.

 

A figura proeminente da CIP é o advogado português Francisco de Almeida Garrett, sobrinho de Maria de Belém Roseiro, a ex-ministra e antiga deputada que foi a preponente da lei dos sefarditas, aprovada por unanimidade pelo Parlamento em 2013.

 

A alteração à Lei da Nacionalidade em 2013 possibilitou aos descendentes de judeus sefarditas, que receberam ordem de expulsão da Península Ibérica no final do século XV, obterem a naturalização – a responsabilidade de emissão de certificados comprovativos das origens sefarditas foi delegada à CIP e à Comunidade Israelita de Lisboa. Um documento fundamental para os candidatos à nacionalidade portuguesa.

 

Conspiradores desconhecidos

De acordo com a CIP, os objectivos desta “chocante conspiração” seriam “destruir a lei sefardita”; “rejeitar (politicamente) o grande afluxo de cidadãos israelitas com interesse em nacionalidade portuguesa”. Tudo através de um “’processo penal’” [uma investigação conduzida pelo Ministério Público à CIP, que envolve suspeitas de associação criminosa, corrupção, falsificação, tráfico de influências, desfalque, roubo e branqueamento de capitais] baseado em “denúncias anónimas”.

 

“A estratégia da UE [União Europeia] de combate ao anti-semitismo e de promoção da vida judaica foi seriamente minada em Portugal”, sublinha: “Esta queixa visa denunciar uma conspiração anti-semita associada a sinais de corrupção conducente a perdas financeiras para a União Europeia, envolvendo a liderança e figuras do governo português, membros do parlamento português, agentes de meios de comunicação social e outras figuras.”

 

Estes supostos ataques à “organização judaica possivelmente mais forte da Europa em termos de religião, cultura, educação e luta contra o anti-semitismo”, estarão a ser “verdadeiramente conduzidos” por conspiradores “desconhecidos”.

 

“Ao estilo soviético”

A CIP vai mais longe e diz que Portugal está a protagonizar um caso de anti-semitismo “ao estilo soviético”. Mas contemporiza logo depois: “O Estado português não é anti-semita. A maioria dos actores do Estado é amiga dos judeus. Entre as vítimas da conspiração não se encontram apenas a comunidade judaica em geral, mas também o Presidente da República Portuguesa, o primeiro-ministro, os líderes parlamentares, magistrados, agentes da polícia e a esmagadora maioria dos meios de comunicação social, mesmo os meios de comunicação social frequentemente acusados de escândalos.”

 

As notícias publicadas na comunicação social, nomeadamente as investigações conduzidas pelo PÚBLICO nos últimos meses sobre a CIP são, de acordo com o organismo, acções concertadas, envolvendo “denúncias anónimas” e “agentes do Estado”.

 

Na “maior conspiração anti-semita do século XXI”, a CIP diz estarem figuras de topo do actual Governo, membros do Parlamento, e agentes dos meios de comunicação privados e estatais. A “troca de benefícios” entre alguns dos envolvidos é avançada como a principal explicação para a “conspiração”, que “nasceu em finais de 2021 [com a publicação de uma investigação no PÚBLICO que revelava a naturalização de Roman Abramovich] e prolongou-se por todo o ano de 2022”.

 

“Velhos a chorar”

“Velhos a chorar, crianças com medo de ir para a escola por serem judeus, o rabino chefe a ser atacado num supermercado, famílias inteiras que sofrem exposição injustificada nos jornais e na televisão, ninguém na comunidade escapou a esta ‘purificação’ ao estilo da Inquisição”, denuncia o documento.

 

“Os verdadeiros autores da conspiração são ainda desconhecidos”, admite a CIP, que promete revelar mais tarde “alguns dos nomes de agentes do Estado e agentes dos meios de comunicação social que desempenharam um papel na conspiração”.

 

Congresso Mundial Judaico critica

As denúncias de anti-semitismo da CIP – recorrentes nos últimos meses – foram recebidas com bastante cepticismo e criticadas pelo Congresso Mundial Judaico (WJC, na sigla em inglês), um organismo internacional que representa as comunidades nacionais e organizações representativas judaicas de 115 países.

 

Contactado pelo jornal israelita Haaretz e confrontado com as acusações da comunidade portuense, Menachem Rosensaft, vice-presidente do WJC, considerou que o anti-semitismo “é um assunto demasiado sério para ser trivializado e utilizado sem fundamento”. O dirigente acusou a CIP de “abraçar teorias da conspiração espúrias” que “devem ser categoricamente rejeitadas como táctica”.

 

Já Gabriel Senderowicz, actual presidente da CIP – que sucedeu recentemente a Yigal Ben Zion, proprietário de uma empresa que lucrava com os processos de nacionalidade portuguesa –, garantiu ao Haaretz que que todas as queixas apresentadas podem ser provadas. “Direi apenas que sabemos o que estamos a fazer e que o futuro trará mais pormenores.”

 

 

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