quinta-feira, 24 de março de 2022

O Governo dos delfins e da continuidade

 


EDITORIAL

O Governo dos delfins e da continuidade

 

António Costa prometeu um governo mais pequeno e mais ágil do que o anterior. A primeira premissa está garantida; a segunda, logo veremos. Estes tempos elevam a fasquia da exigência.

 

Amílcar Correia

23 de Março de 2022, 20:51

https://www.publico.pt/2022/03/23/politica/editorial/governo-delfins-continuidade-1999927

 

Uma legislatura que associa um governo de maioria absoluta, o rescaldo da pandemia, uma guerra na Europa, de efeitos imprevisíveis, e a aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) seria a oportunidade ideal para a formação de um executivo com outro peso político e técnico que o terceiro Governo de António Costa não tem.

 

Era previsível que António Costa reconduzisse o seu núcleo duro mais fiel, que mantivesse Pedro Nuno Santos, ou que mudasse João Gomes Cravinho da Defesa para outra pasta. Mas a conjuntura recomendava também que António Costa fosse capaz de desencantar outros nomes necessários para renovar um governo que acabou desgastado e sem brilho.

 

E esse brilho não se obtém com a repescagem de Fernando Medina para as Finanças ou com a entrada atrasada de António Costa e Silva na Economia. Muito menos ainda com a manutenção de Ana Abrunhosa na Coesão Territorial e de Maria do Céu Antunes na Agricultura.

 

De resto, o peso das saídas de Augusto Santos Silva ou de Pedro Siza Vieira é superior ao das entradas de Helena Carreiras na Defesa ou de Elvira Fortunato na Ciência e Ensino Superior. Basta recordar que dos anteriores quatro ministros de Estado apenas Mariana Vieira da Silva irá transitar para o Governo, reforçando a sua importância.

 

António Costa prometeu um governo mais pequeno e mais ágil do que o anterior. A primeira premissa está garantida; a segunda, logo veremos. Estes tempos elevam a fasquia da exigência.

 

Um governo de maioria absoluta tem de evitar o erro de executivos que no passado fizeram da arrogância uma atitude. E não lhe faltam condições para executar as reformas imprescindíveis num contexto de convulsão internacional e de recuperação de dois anos de pandemia: não tem as limitações que teria, caso dependesse de parceiros parlamentares, e toma posse num momento em que a “bazuca” será um instrumento que não pode ser desperdiçado.

 

Não é crível que a oposição seja de muita utilidade. O mais natural é que o BE, PCP e PAN estejam mais preocupados com a sua própria sobrevivência do que com qualquer melhoria de desempenho do Estado (o que o Livre agradece).

 

E que o Chega e a IL, cada um à sua maneira, se deslumbrem com o pódio que conquistaram e com o ruído que conseguirem produzir. Acresce que PSD, cujo diagnóstico é sempre reservado, arrisca-se a viver quatro anos de coma. O país terá um governo de delfins, de uma continuidade conformista e nada surpreendente. Valha-nos a paridade.

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