quinta-feira, 24 de março de 2022

Assembleia Municipal aprova suspensão de novos registos de AL em 14 freguesias de Lisboa

 


LISBOA

Assembleia Municipal aprova suspensão de novos registos de AL em 14 freguesias de Lisboa

 

Ficam suspensas as novas aberturas nas freguesias onde o rácio entre casas de habitação permanente e de AL seja superior a 2,5%.

 

Cristiana Faria Moreira

22 de Março de 2022, 17:33

https://www.publico.pt/2022/03/22/local/noticia/assembleia-municipal-lisboa-aprova-suspensao-novos-registos-al-1999749

 

À quarta foi de vez: a Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta terça-feira a suspensão de novos registos de Alojamento Local (AL) na capital. Com a aprovação desta medida, ficam suspensas novas aberturas nas freguesias onde o rácio entre casas de habitação permanente e de AL seja superior a 2,5%. O que quer dizer que numa freguesia com 100 casas, se duas e meia estiverem dedicadas a este negócio, os registos ficam suspensos por pelo menos seis meses, até à entrada em vigor do novo Regulamento Municipal do Alojamento Local, que actualizará as áreas de contenção. Para a medida entrar em vigor terá ainda de ser publicada em Boletim Municipal.

 

A proposta foi viabilizada por PS, PCP, PEV, Livre e deputados independentes, com os votos contra de PSD, CDS, PAN, IL, MPT, PPM, Aliança e Chega. O BE absteve-se.

 

A discussão sobre a necessidade de ir ainda mais além nas zonas de contenção de AL na capital — que existem em diversas zonas — começou no final de Agosto de 2021, quando o então autarca Fernando Medina anunciou que se fosse reeleito ia avançar com uma proposta para proibir novos registos. Mesmo não tendo sido eleito, o grupo de vereadores do PS, agora na oposição, apresentou essa proposta e, numa coligação negativa entre PS, Livre, a independente Paula Marques e PCP — e a abstenção do BE —, viu-a ser aprovada pelo executivo em Dezembro passado, numa derrota para PSD e CDS, hoje à frente do município.

 

A votação da proposta na assembleia municipal chegou a estar agendada para 8 de Fevereiro mas, no entanto, acabou por ser retirada da ordem de trabalhos a pedido dos deputados municipais do PS. Pediam os socialistas que o texto em questão fosse clarificado, na sequência de um parecer jurídico dos serviços, pedido pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.

 

Assim, foi clarificado que esse rácio é válido no momento da entrada em vigor da norma, mas também se vier a ser ultrapassado “no decurso da suspensão”. Mas sem prejuízo para os proprietários que já tenham iniciado o processo antes da aprovação. Essa alteração foi também votada esta terça-feira e igualmente aprovada por maioria.

 

Segundo as contas feitas pelos socialistas, esse rácio de 2,5% é excedido em 14 freguesias: Santa Maria Maior (52%), Misericórdia (39%), Santo António (26%), São Vicente (16%), Arroios (14%), Estrela (11%), Avenidas Novas (7%), Alcântara (5%), Belém (4%), Campo de Ourique (4%), Parque das Nações (4%) e Penha de França (4%), Ajuda (3%) e Areeiro (3%).

 

Esquerda e direita divididas

Como esperado, este é um tema que divide esquerda e direita, como foi notório na discussão da proposta. Na apresentação da mesma, pelo PS, Silvino Correia, que é presidente da Junta de Freguesia do Beato, defendeu que “a suspensão cautelar é necessária” e é “imperioso” iniciá-la com brevidade para não alimentar os processos de gentrificação já em curso na cidade.

 

Já pelo Bloco de Esquerda, o deputado Vasco Barata admitiu que se chegou tarde a este tema e que “a direita e o centro tiveram uma política de vistas curtas” e defendeu a “suspensão total” de novos registos em toda a cidade.

 

Esta suspensão, notou, será “o ponto de partida, mas não esgota o debate”, que terá de ser “mais profundo”. “Tem de ser sobre como recuperamos as casas para o mercado de arrendamento, como se distingue o pequeno dos grandes proprietários e fundos imobiliários”, disse, defendendo ainda que terá de ser feito em diálogo com a Assembleia da República em termos de regulamentação.

 

A deputada comunista, Natacha Amaro, lembrou que o Regulamento Municipal do Alojamento Local, aprovado em 2019, foi “uma conquista no direito à habitação e no direito à cidade”. Mas admitiu ser necessária mais monitorização do AL, assim como planeamento da oferta hoteleira, invocando a proposta - já discutida no anterior executivo - de se elaborar uma Carta Municipal do Turismo.

 

Já o deputado Sobreda Antunes, do PEV, defendeu que subsistem reservas em relação a esta proposta e que deve existir uma “melhor monitorização das zonas turísticas”.

 

Margarida Penedo, do CDS, sublinhou que os novos registos de AL “subiram muito pouquinho durante a pandemia” e que esses alojamentos serviram não só para turismo, mas para acolher estudantes ou profissionais de saúde deslocados. Considerou ainda que o rácio proposto de 2,5% “é de tal maneira baixo que não se distingue de um impedimento absoluto”.

 

Para a Iniciativa Liberal, é necessário um estudo que sustente esta decisão. Estudo esse que não existe, lembrou a deputada Angélique da Teresa. E criticou a esquerda por não se bater contra o aumento do número de hotéis na cidade como se bate pela suspensão do AL. “Vamos trabalhar para que haja em Lisboa um pacto turístico entre todos e não só com uma parte”, disse.

 

Já Luís Newton, do PSD e presidente da junta da Estrela — freguesia onde mais têm surgido novos AL —, disse acreditar que com a definição de mais áreas de contenção esse “problema” irá ser transportado para outras freguesias. Defendeu que o regulamento deveria ter sido mais desenvolvido e afinado e introduzidos “rácios de ponderação”, uma vez que uma freguesia pode ter diferentes níveis de pressão de AL. E que esta proposta não será uma solução, mas antes o “empurrar com a barriga” do problema. “Não existe uma política clara para o AL na cidade. Estamos sempre a correr atrás do prejuízo. O objectivo do PS é estancar o crescimento económico da cidade”, sublinhou.

 

Do lado do executivo, que terá agora que implementar uma medida com a qual não concorda, o vice-presidente do município, Filipe Anacoreta Correia, admitiu que gostaria que o processo se tivesse desenvolvido de outra forma, com mais diálogo. “Houve precipitação. Nós gostaríamos que processos como este fossem conduzidos com prudência, com calendários cautelosos, com processos dialogados e com mais planeamento”, notou.

 

A Associação de Alojamento Local em Portugal (ALEP), que representa o sector, tem por várias vezes lamentado não ter havido “qualquer debate sobre o assunto”, criticando a posição dos socialistas de tomarem uma decisão que “não é baseada em factos” e de usarem o sector como “bode expiatório” para a falta de políticas de habitação na capital.

Sem comentários:

Enviar um comentário