EDITORIAL
TAP, o pior está para vir
As injecções de capital público, a espera por Bruxelas e
os adiamentos têm criado a ilusão de que o problema está controlado. Não está.
Os prejuízos anunciados esta semana são apenas um indício de que o problema da
TAP apenas está a começar.
Manuel Carvalho
22 de Abril de
2021, 21:14
https://www.publico.pt/2021/04/22/economia/noticia/tap-pior-1959685
Já se sabia, mas,
a cada dia que passa, vai ficando mais claro que a reestruturação da TAP não
será nem simples nem isenta de dor. Já se tinha percebido que uma redução tão
brutal de postos de trabalho como a que consta no plano entregue a Bruxelas
exigiria coacção, poder, resistência e sofrimento. O Governo, para já,
negoceia, dilata prazos, faz apelos pungentes para a realidade dramática da
companhia, mas sabe, como todos sabemos, que o emagrecimento da empresa vai dar
origem a um dos mais dramáticos conflitos laborais do país em muitos anos. Não
há cortes sem danos, principalmente quando quem os faz está sujeito à pressão
política de sindicatos ou da esquerda parlamentar, como é o caso.
Pode-se assumir
que as greves ou os protestos que estão para vir quando o Governo tiver
esgotado o tempo das negociações para a saída de trabalhadores são inevitáveis.
Quer fechasse a companhia, quer a vendesse, ou, como escolheu, a salvasse numa
versão mais reduzida, o Governo teria sempre em mãos este drama. O problema da
TAP é antigo e a pandemia sublinhou-o com o traço da ruína. Mas uma
reestruturação feita por um conselho de administração de uma empresa ou por um
Governo de direita é uma coisa; um despedimento assinado por um Governo e, em
particular, por um ministro de esquerda é outra coisa muito diferente.
Dizer que a
companhia, tal como está, não é viável, recordar que não há dinheiro, que a
transportadora não pode ser um sorvedouro de impostos serão, neste contexto,
argumentários racionais, mas pouco útieis. Os trabalhadores não têm culpa dos
erros de gestão anteriores, nem da pandemia, nem da carência financeira do
país. Os momentos de ansiedade que eles e as suas famílias vivem merecerão
apoio e compreensão. Entre a razão e a emoção, entre a pressão para acabar com
uma companhia ruinosa e os apelos à justiça ou à defesa de postos de trabalho,
será impossível formar consensos. Mesmo que optem pelas melhores soluções
possíveis, a TAP está condenada a ser um espinho cravado na agenda do Governo e
nas ambições de Pedro Nuno Santos.
O que se
vislumbra, portanto, é um cenário preocupante. Em Julho último, escrevemos
neste espaço que, “no meio de uma crise terrível como a que vivemos, o Governo
ficar no comando de uma empresa falida e sujeita a uma reestruturação dolorosa
é meio caminho andado para o desastre”. As injecções de capital público, a
espera por Bruxelas e os adiamentos têm criado a ilusão de que o problema está
controlado. Não está. Os prejuízos anunciados esta semana são apenas um indício
de que o problema apenas está a começar.


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